Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 24 de março de 2011

Feminina, Calcanhotto põe seu bloco na rua com samba 'cool' e moderno

Resenha de CD
Título: O Micróbio do Samba
Artista: Adriana Calcanhotto
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * *

Sem compromisso com as tradições do samba, mas em salutar diálogo com elas, Adriana Calcanhotto põe seu bloco na rua com o CD O Micróbio do Samba, nas lojas do Brasil e de Portugal neste mês de março de 2011. Dos 12 sambas, dez são inéditos. Os outros dois - Vai Saber e Beijo Sem, lançados nas vozes de Marisa Monte e Teresa Cristina em 2006 e 2010 - ganham registros autorais em sintonia com o tom cool e feminino do disco produzido por Daniel Carvalho. Da safra inédita, Eu Vivo a Sorrir - samba que cita o fado e promove a edição portuguesa do álbum - é um dos mais inspirados. Impregnado da poética da compositora, em letra que exalta a arte do encontro casual, Eu Vivo a Sorrir é belo abre-alas de um disco de samba que inclui até um piano de tom camerístico - tocado por Calcanhotto - na introdução de Aquele Plano para me Esquecer, o menos sedutor dos 12 temas autorais. O samba dita o ritmo de quase todas as 12 faixas, mas, em essência, O Micróbio do Samba deve ser encarado mais como um disco sobre o universo do samba, filtrado pela ótica espirituosa de Calcanhotto. As sutilezas harmônicas são urdidas por um trio-base formado por Alberto Continentino (contrabaixo), Domenico Lancellotti (bateria e percussões) e pela própria Calcanhotto, que pilota delicado arsenal de instrumentos que inclui até a bandeja de chá inserida na marchinha carnavalesca Deixa, Gueixa (que tem cavaquinho de Davi Moraes). Mas a poesia - sempre contemporânea apesar de evocar eventualmente símbolos e signos recorrentes na construção do universo do samba - é que torna o disco tão especial. Calcanhotto dá voz ativa à mulher ao cair no samba sem perder a pose e até com um certo sadismo no caso específico dos versos de Pode se Remoer ("Pode se remoer / Se penitenciar / Eu encontrei alguém que só pensa em beijar"). Mais Perfumado, outro destaque da safra inédita, destila fina ironia ao mostrar que a mulher já não se deixa enganar pelas artimanhas do marido infiel e boêmio. Vem Ver - ironicamente o único samba assinado por Calcanhotto em parceria e, nisso reside a ironia, com um parceiro masculino, Dadi - expõe o homem subjugado aos caprichos femininos. Mesmo quando perde o jogo do amor, a mulher não perde a pose. Os versos de Já Reparô? fazem troça da rival - "Ai, ela não quebra / Ela não balança" - entre síncopes e acordes da guitarra do hermano Rodrigo Amarante. Entre exaltação à Mangueira em samba que reitera o tom feminino e cool do disco (Tá na Minha Hora) e marcha-rancho que evoca verso do poeta Vinicius de Moraes (1913 - 1980) e faz jus ao título Tão Chic, O Micróbio do Samba tangencia a pegada baiana do samba-de-roda em Você Disse Não Lembrar, com direito a prato e faca percutidos por Moreno Veloso. Com seus sambas para moças de fino trato, Calcanhotto entra na roda com disco chique em que subverte valores ao dar à mulher (todo) o poder da criação.

8 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Sem compromisso com as tradições do samba, mas em salutar diálogo com elas, Adriana Calcanhotto põe seu bloco na rua com o CD O Micróbio do Samba, nas lojas do Brasil e de Portugal neste mês de março de 2011. Dos 12 sambas, dez são inéditos. Os outros dois - Vai Saber e Beijo Sem, lançados nas vozes de Marisa Monte e Teresa Cristina em 2006 e 2010 - ganham registros autorais em sintonia com o tom cool e feminino do disco produzido por Daniel Carvalho. Da safra inédita, Eu Vivo a Sorrir - samba que cita o fado e promove a edição portuguesa do álbum - é um dos mais inspirados. Impregnado da poética da compositora, em letra que exalta a arte do encontro casual, Eu Vivo a Sorrir é belo abre-alas de um disco de samba que inclui até um piano de tom camerístico - tocado por Calcanhotto - na introdução de Aquele Plano pra me Esquecer, o menos sedutor dos 12 temas autorais. O samba dita o ritmo de quase todas as 12 faixas, mas, em essência, O Micróbio do Samba deve ser encarado mais como um disco sobre o universo do samba, filtrado pela ótica espirituosa de Calcanhotto. As sutilezas harmônicas são urdidas por um trio-base formado por Alberto Continentino (contrabaixo), Domenico Lancellotti (bateria e percussões) e pela própria Calcanhotto, que pilota delicado arsenal de instrumentos que inclui até a bandeja de chá inserida na marchinha carnavalesca Deixa, Gueixa (que tem cavaquinho de Davi Moraes). Mas a poesia - sempre contemporânea apesar de evocar eventualmente símbolos e signos recorrentes na construção do universo do samba - é que torna o disco tão especial. Calcanhotto dá voz ativa à mulher ao cair no samba sem perder a pose e até com um certo sadismo no caso específico dos versos de Pode se Remoer ("Pode se remoer / Se penitenciar / Eu encontrei alguém que só pensa em beijar"). Mais Perfumado, outro destaque da safra inédita, destila fina ironia ao mostrar que a mulher já não se deixa enganar pelas artimanhas do marido infiel e boêmio. Vem Ver - ironicamente o único samba assinado por Calcanhotto em parceria e, nisso reside a ironia, com um parceiro masculino, Dadi - expõe o homem subjugado aos caprichos femininos. Mesmo quando perde o jogo do amor, a mulher não perde a pose. Os versos de Já Reparô? fazem troça da rival - "Ai, ela não quebra / Ela não balança" - entre síncopes e acordes da guitarra do hermano Rodrigo Amarante. Entre exaltação à Mangueira em samba que reitera o tom feminino e cool do disco (Tá na Minha Hora) e marcha-rancho que evoca verso do poeta Vinicius de Moraes (1913 - 1980) e faz jus ao título Tão Chic, O Micróbio do Samba tangencia a pegada baiana do samba-de-roda em Você Disse Não Lembrar, com direito a prato e faca percutidos por Moreno Veloso. Com seus sambas para moças de fino trato, Calcanhotto entra na roda com disco chique em que subverte valores ao dar à mulher (todo) o poder da criação.

Venus disse...

É uma pena que esse belo álbum não terá uma turnê de divulgação, já que Adriana lesionou o tendão da mão e está impossibilitada de tocar violão.

Adriana justificou em entrevista que, tendo em vista que o álbum foi todo produzido com as cordas, ela ficaria triste de não poder dedilhar o instrumento no palco.

Eu adoraria vê-la no palco de pé, se movimentando mais e deixando o instrumento a cargo de outro músico. Acredito que um espetáculo de tom teatral se ajustaria bem ao repertório do álbum. Mas respeito a decisão da artista e faço votos para que ela se recupere e volte logo aos palcos. :)

/Diego Xavier disse...

Já vazou? Tô louco para ouvir!

Santana Filho disse...

Embora as canções que escutei não tenham me arrebatado numa primeira audição, vou conferir o CD pq Adriana tem sempre o que dizer e esbanja estilo.

lurian disse...

Há duas compositoras pop's absolutamente necessárias pela personalidade e pelo bom gosto que impimem às canções: Marina Lima e Adriana Calcanhotto!

Anônimo disse...

Pô, tô decepcionado com a internet.
Cadê a bolachinha pra baixar?
Eu gosto de ouvir como preview, se gostar, compro.

Henrique Nascimento disse...

Muito fraco e como sempre, previsível demais. Adriana infelizmente não ousa nunca, mas gosto dela.

Unknown disse...

Fantástico. Amo esse disco.