Mauro Ferreira no G1

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sábado, 26 de março de 2011

'Alma Boa de Lugar Nenhum' flagra Careqa cheio de Arte, Brecht e pianos

Resenha de CD
Título: Alma Boa de Lugar Nenhum
Artista: Carlos Careqa
Gravadora: Barbearia Espiritual Discos
Cotação: * * * 1/2

"Este ano eu vou virar / Um pop star / Três banheiros / E muita sala de estar", prevê Carlos Careqa, cheio de fina ironia, em Sucessão de Fracassos, faixa de seu sétimo álbum, Alma Boa de Lugar Nenhum. Não, Careqa nunca vai virar um popstar. Até porque sua voz opaca e limitada serve apenas à sua música. Mas serve bem. Com título que remete ao universo teatral de Bertolt Brecht (1898 - 1956), Alma Boa de Lugar Nenhum cita frases do dramaturgo - no original, em alemão - na faixa que lhe dá nome e inclui no repertório versão de tema da obra musical de Kurt Weill com Brecht, Balada da Dependência Sexual. Disco de voz e pianos (os de Tiago Costa, André Mehmari, Ana Fridman, Paulo Braga e Gabriel Levy), o sucessor de Tudo que Respira Quer Comer (2009) flagra Careqa em bom momento criativo. "Estou cheio de arte / Arte até o pescoço / Tô guardando pro almoço", avisa o artista nos versos iniciais de Estou Cheio de Arte, canção que abre o CD com passagens que evocam o universo da música sertaneja. Realmente cheio de Arte, no sentido mais verdadeiro do termo, Careqa entrelaça referências que vão de Noel Rosa (1910 - 1937). a Arrigo Barnabé. De Noel, a influência se faz sentir no samba O Rolo do Rolex, cuja letra exala a mordacidade perceptível em boa parte da obra de Careqa. De Arrigo, há a voz em Todo Cuidado É Pouco - última parceria de Careqa com Itamar Assumpção (1949 - 2003) - e a influência atonal que pauta Minha Música, faixa cantada por ninguém menos do que Chico Buarque . De 2003, Minha Música foi composta quando Careqa participava da ópera O Homem dos Crocodilos. Dentro do leque refinado de Alma Boa de Lugar Nenhum, CD concebido e produzido pelo próprio Careqa, cabe até uma melodiosa canção como Simplesmente, parceria do artista com Rui Werneck de Capistrano. Enfim, um bom disco que não vai tornar Carlos Careqa mais ou menos conhecido do que ele já é. Mas que reitera a inventividade de um artista coerente com sua boa música, cheia de Arte.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Este ano eu vou virar / Um pop star / Três banheiros / E muita sala de estar", prevê Carlos Careqa, cheio de fina ironia, em Sucessão de Fracassos, faixa de seu sétimo álbum, Alma Boa de Lugar Nenhum. Não, Careqa nunca vai virar um popstar. Até porque sua voz opaca e limitada serve apenas à sua música. Mas serve bem. Com título que remete ao universo teatral de Bertolt Brecht (1898 - 1956), Alma Boa de Lugar Nenhum cita frases do dramaturgo - no original, em alemão - na faixa que lhe dá nome e inclui no repertório versão de tema da obra musical de Kurt Weill com Brecht, Balada da Dependência Sexual. Disco de voz e pianos (os de Tiago Costa, André Mehmari, Ana Fridman, Paulo Braga e Gabriel Levy), o sucessor de Tudo que Respira Quer Comer (2009) flagra Careqa em bom momento criativo. "Estou cheio de arte / Arte até o pescoço / Tô guardando pro almoço", avisa o artista nos versos iniciais de Estou Cheio de Arte, canção que abre o CD com passagens que evocam o universo da música sertaneja. Realmente cheio de Arte, no sentido mais verdadeiro do termo, Careqa entrelaça referências que vão de Noel Rosa (1910 - 1937). a Arrigo Barnabé. De Noel, a influência se faz sentir no samba O Rolo do Rolex, cuja letra exala a mordacidade perceptível em boa parte da obra de Careqa. De Arrigo, há a voz em Todo Cuidado É Pouco - última parceria de Careqa com Itamar Assumpção (1949 - 2003) - e a influência atonal que pauta Minha Música, faixa cantada por ninguém menos do que Chico Buarque . De 2003, Minha Música foi composta quando Careqa participava da ópera O Homem dos Crocodilos. Dentro do leque refinado de Alma Boa de Lugar Nenhum, CD concebido e produzido pelo próprio Careqa, cabe até uma melodiosa canção como Simplesmente, parceria do artista com Rui Werneck de Capistrano. Enfim, um bom disco que não vai tornar Carlos Careqa mais ou menos conhecido do que ele já é. Mas que reitera a inventividade de um artista coerente com sua boa música, cheia de Arte.

Eduardo Cáffaro disse...

Olá Mauro tudo bem ? Apenas uma pergunta que não tem a ver com o post. Alguma notícia sobre as gravações dos 3 shows de Gal Costa que foram encontrados nos arquivos ? Esse material vai vingar mesmo ?

Eduardo Cáffaro - abc

Andy disse...

Disco realmente muito bom. Talvez o menos "MPB" da carreira do Careqa. Talvez o mais "difícil" deles. De qualquer maneira, uma grande guinada de estilo. E o artista realmente bom sabe manter a identidade mudando de estilo. O Careqa faz isso maravilhosamente bem.