Título: Novo álbum
Artista: Paulo Ricardo
Gravadora: PRM / Universal Music
Cotação: * *
♪ Em parceria com Luiz Schiavon, partner no grupo RPM, Paulo Ricardo construiu nos anos 1980 obra que é a mais perfeita tradução brasileira do tecnopop da década. A química entre os compositores é tão forte que sobreviveu às idas e vindas do grupo, aos confrontos entre os artistas, e produziu joias na presente década, quando o reativado RPM lançou vigoroso álbum de estúdio, Elektra (Building Records, 2011). Decorridos cinco anos, Paulo Ricardo volta ao disco sem Schiavon. Primeiro álbum solo do cantor, compositor e músico carioca em longos dez anos, Novo álbum - programado para chegar às lojas neste mês de março de 2016 com distribuição da gravadora Universal Music - recicla sons e ideias de Elektra sem bisar a inspiração do álbum de estúdio do RPM. Neste disco de músicas inéditas, gravado com produção dividida entre João Paulo Mendonça, Guilherme Canaes e Marcelo Sussekind, o som de Paulo Ricardo soa trivial sem apontar para a obra do cantor a "nova direção" anunciada em um dos versos iniciais de Novo single (Paulo Ricardo e João Paulo Mendonça), rock que abre Novo álbum em clima levemente sombrio, com letra que promove a compra do disco de Paulo Ricardo, mas na defensiva. "...Mas eu espero, meu amor, que você entenda que eu não estou à venda / Que o mais simples é sempre o mais bonito". Paulo Ricardo jamais extrai beleza da simplicidade na safra autoral de Novo álbum. Com novos parceiros como João Paulo Mendonça e Marcos Zeeba, o artista oscila entre rocks e baladas. Balada escolhida para promover o disco nas rádios, Isabella (Paulo Ricardo) desacelera os beats, no toque folk dos violões da faixa, para fazer babona declaração de amor à homônima filha do artista, cujo filho Luis Eduardo aparece na terna foto da capa irresistível de Novo álbum. Outra balada, Eu e você (O x da questão) (Paulo Ricardo), enfileira clichês nos versos para declara amor à mulher amada. Em que pesem estas músicas feitas para a família, Novo álbum também vai para as baladas - aqui no sentido de festa - e exalta as criaturas da noite com a animação artificial de Como você (Paulo Ricardo), cujo coro evoca a quente atmosfera vocal do gospel norte-americano. Juntos (Paulo Ricado) se conecta a essa vibe festiva e arremessa Paulo Ricardo na pista do DJ e produtor mineiro FTampa, criador da batida eletrônica da faixa. E, se noite inspira sexo, a psicodelia lânguida de Sexy (Paulo Ricardo) remói universo já habitado pelo cantor nos tempos em que ele era o maior popstar do rock brasileiro a reboque do RPM com um tecnopop evocado em Raios x (Paulo Ricardo, 2004), regravação da música lançada originalmente por Paulo em Zum zum (Som Livre, 2004), único álbum do efêmero PR-5, grupo formado pelo artista na primeira metade dos anos 2000. O fato é que a audição de músicas como Tanta coisa (Paulo Ricardo e João Paulo Mendonça) - cuja letra versa de forma simplória sobre a ampla oferta de informação e diversão em mundo cada vez mais conectado - reitera a impressão de que a safra de Novo álbum soa sem a força das parcerias de Paulo Ricardo com Schiavon. Há sopros de emoção real como o coro de tonalidade soul que encorpa Vida nova (Paulo Ricardo) e as confissões de Eu não sei (Marcos Zeeba e Paulo Ricardo), balada-rock que se impõe na safra anêmica. Mas o encerramento de Novo álbum com a versão 2016 de Vida real (Leef) (Ruud Voerman, Paul Post e Han Kooreneef, 1999, em versão em português de Paulo Ricardo, 2002) - tema gravado há 14 anos pelo RPM para a abertura do programa Big Brother Brasil (TV Globo) - corrobora a sensação de que Novo álbum corre para vários lados sem achar um caminho, ou real nova direção, que dê frescor ao som de Paulo Ricardo.