Mauro Ferreira no G1

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domingo, 3 de outubro de 2010

Coletânea com 15 gravações inéditas perfila a obra coerente de Ivan Lins

Resenha de CD
Título: Perfil

Artista: Ivan Lins
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * 1/2

Simultaneamente com o lançamento de seu novo álbum, Íntimo, Ivan Lins comemora seus 40 anos de carreira com a edição de coletânea na série Perfil, da gravadora Som Livre. A novidade é que - na contramão do conceito da série - o compositor optou por regravar as músicas mais expressivas de sua obra. Produzido por Sérgio Saraceni, o disco perfila bem o cancioneiro de Ivan através de 15 faixas que totalizam 16 músicas (a seminal O Amor É o meu País vem unida em pot-pourri ufanista com Meu País). As versões de 2010 são pautadas por um tom mais íntimo, especialmente perceptível nas regravações de Começar de Novo (1979) e Vitoriosa (1985). Já a passagem instrumental que encerra Abre Alas (1974) evoca o clima jazzy que tem moldado o repertório do compositor, sobretudo em apresentações no exterior. Contudo, os registros de Perfil estão em sintonia com os arranjos das imbatíveis gravações originais de músicas como a folia de reis Bandeira do Divino (1978). De novidade, há a convocação de Jorge Vercillo para harmonioso dueto em A Noite, tema que deu título ao álbum lançado por Ivan em 1979, fechando década de auge artístico e comercial. Aliás, foi ao longo dos anos 70 que Ivan Lins estabeleceu os cânones de obra que oscilou entre o romantismo - sem nunca resvalar no sentimentalismo barato - e o ativismo político, necessário em época em que era preciso recorrer às metáforas -como as de Cartomante (1977), música revivida em Perfil - para se posicionar contra o sistema vigente. Embora tenda a priorizar as canções românticas em seleção que inclui Lembra de mim (1995) e Vieste (1987), a coletânea Perfil de Ivan Lins monta bom painel da obra do compositor - com direito a um samba, Deixa Eu Dizer (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, 1973), que nem foi hit, mas que certamente entrou na seleção porque foi reavivado ao ser sampleado (no registro original de Cláudia)  por Marcelo D2 em gravação de 2008. E por falar em cantoras, é dificil reouvir em Perfil o samba Madalena (1970) sem pensar no registro definitivo de Elis Regina (1945 - 1982) da mesma forma que a dramática Bilhete (1980) já é canção indissociável da voz emotiva de Fafá de Belém. Seja como for, a voz de Ivan Lins nunca se calou ao longo dessas quatro décadas de carreira que ultrapassou as fronteiras do Brasil já no início dos anos 70 quando Ella Fitzgerald (1917 - 1996) se encantou com o suingue de Madalena. Por isso mesmo, Perfil é - para jovens ouvintes - bom cartão de visitas que abre alas para a percepção da obra coerente de Ivan Lins.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Simultaneamente com o lançamento de seu novo álbum, Íntimo, Ivan Lins comemora seus 40 anos de carreira com a edição de coletânea na série Perfil, da gravadora Som Livre. A novidade é que - na contramão do conceito da série - o compositor optou por regravar as músicas mais expressivas de sua obra. Produzido por Sérgio Saraceni, o disco perfila bem o cancioneiro de Ivan através de 15 faixas que totalizam 16 músicas (a seminal O Amor É o meu País vem unida em pot-pourri ufanista com Meu País). As versões de 2010 são pautadas por um tom mais íntimo, especialmente perceptível nas regravações de Começar de Novo (1979) e Vitoriosa (1985). A passagem instrumental que encerra Abre Alas (1974) evoca o clima jazzy que tem moldado o repertório do compositor, sobretudo em apresentações no exterior. Contudo, os registros de Perfil estão em sintonia com os arranjos das imbatíveis regravações originais de músicas como a folia de reis Bandeira do Divino (1978). De novidade, há a convocação de Jorge Vercillo para harmonioso dueto em A Noite, tema que deu título ao álbum lançado por Ivan em 1979, fechando década de auge artístico e comercial. Aliás, foi ao longo dos anos 70 que Ivan Lins estabeleceu os cânones de obra que oscilou entre o romantismo - sem nunca resvalar no sentimentalismo barato - e o ativismo político, necessário em época em que era preciso recorrer às metáforas -como as de Cartomante (1977), música revivida em Perfil - para se posicionar contra o sistema vigente. Embora tenda a priorizar as canções românticas em seleção que inclui Lembra de mim (1995) e Vieste (1987), a coletânea Perfil de Ivan Lins monta bom painel da obra do compositor - com direito a um samba, Deixa Eu Dizer (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, 1973), que nem foi hit, mas que certamente entrou na seleção porque foi reavivado ao ser sampleado (no registro original de Cláudia) por Marcelo D2 em gravação de 2008. E por falar em cantoras, é dificil reouvir em Perfil o samba Madalena (1970) sem pensar no registro definitivo de Elis Regina (1945 - 1982) da mesma forma que a dramática Bilhete (1982) já é canção indissociável da voz emotiva de Fafá de Belém. Seja como for, a voz de Ivan Lins nunca se calou ao longo dessas quatro décadas de carreira que ultrapassou as fronteiras do Brasil já no início dos anos 70 quando Ella Fitzgerald (1917 - 1996) se encantou com o suingue sincopado de Madalena. Por isso mesmo, Perfil é correto cartão de visitas que abre alas para a percepção da obra coerente e coesa de Ivan Lins.