Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


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terça-feira, 12 de maio de 2015

Sem 'traduzir' Aracy, livro perfila a cantora com compilação de depoimentos

Resenha de livro
Título: Aracy de Almeida - Não tem tradução
Autor: Eduardo Logullo
Editora: Veneta
Cotação: * * 1/2

"Este livro evita fazer um relato biográfico historicista. A intenção autoral / editorial é interpretar Aracy de Almeida a partir de centenas de frases, entrevistas, depoimentos de artistas ou de escritores, transcrições, fatos curiosos, vivências, brigas, quiproquós, babados e embates, além de muitas outras referências e reverências". Com esse texto de tom defensivo, publicado na orelha do seu livro Aracy de Almeida - Não tem tradução (2014), o jornalista e escritor Eduardo Logullo já se exime de qualquer responsabilidade na cobrança de eventuais falhas da única obra relevante produzida para festejar o centenário de nascimento da cantora carioca Aracy de Almeida (19 de agosto de 1914 - 20 de junho de 1988), ignorado pela indústria fonográfica brasileira. Sem ter feito um trabalho de investigação jornalística que revelasse fatos até então ocultos da vida de Araci Telles de Almeida, Logullo se limita a reproduzir - numa edição charmosa, justiça seja feita - depoimentos da artista e de nomes que conviveram com ela. Retirados de entrevistas de jornais, de revistas e de programas de TV, além de outros outros livros que enfocaram a cantora, tais depoimentos perfilam A Dama do Encantado no tom leve de um almanaque, soando por vezes repetitivos. As questões da artista com a obra de Noel Rosa (1910 - 1937), o compositor carioca de quem é considerada a intérprete mais apurada, se repetem ao longo das páginas, por exemplo. Escritos com estilo, os breves textos originais ajudam a dar ao livro uma certa verve condizente com o temperamento atribuído à Araca. A personagem em si é ótima. Para muitos somente a jurada rabugenta de programas de calouro exibidos na TV dos anos 1970 e 1980, Aracy de Almeida foi uma das grandes cantoras do seu tempo. Para alguns, como Paulinho da Viola, ela foi a sambista da fase pré-Bossa Nova. Uma mulher feia, de aparência masculinizada, que harmonizava seus preceitos bíblicos com a militância no universo da malandragem. Frasista, Aracy tinha medo de avião, cultuava seus gatos, era amiga de pintores famosos como Dei Cavalcanti (1897 - 1976) e se orgulhava de seus seios harmoniosos, exibidos em público se as circunstâncias justificassem a nudez parcial. Tida como o samba em pessoa, Aracy amou cantar Noel Rosa, mas detestou ser conhecida como A voz do morto, epíteto reproduzido pelo compositor Caetano Veloso na música que fez em 1968 para a cantora, já então desestimulada de seguir na profissão que lhe deu fama nos anos 1930. Intérprete precisa de Noel e de outros compositores como o carioca Custódio Mesquita (1910 - 1945) - de quem lançou o samba-canção Saia do caminho (Custódio Mesquita e Evaldo Ruy) em 1946 - e o mineiro Ary Barroso (1903 - 1964), cuja Camisa amarela vestiu bem em Aracy em 1939. Tudo isso está nos depoimentos (uns poucos foram colhidos pelo autor) reproduzidos em Aracy de Almeida - Não tem tradução, livro que cumpre a missão de não traduzir a lendária e improvável personagem, que ainda merece biografia alentada, produto de esforço de reportagem jornalística.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Indústria do disco ignora centenário de nascimento de Aracy de Almeida

 Hoje faz 100 anos que nasceu Araci Teles de Almeida (19 de agosto de 1914 - 20 de junho de 1988), a cantora carioca conhecida como Aracy de Almeida. O silêncio da indústria fonográfica brasileira em relação ao centenário de nascimento dessa que foi uma das mais expressivas cantoras brasileiras dos anos 1930, 1940 e 1950 diz muito sobre o Brasil e sobre a própria indústria do disco. Sequer há uma coletânea nos planos das companhias fonográficas para celebrar e reviver a voz de Aracy, cantora que gravou discos com regularidade, entre 1934 e 1960, com os selos da Columbia, Victor, Odeon, Continental, Polydor e Elenco. Injusto, o silêncio de gravadoras multinacioanis como Sony Music, Warner Music e Universal Music - herdeiras da discografia de Aracy - talvez possa encontrar explicação somente no fato de que a artista ainda é mais lembrada - quando é lembrada - como a jurada feia e ranzinza do Show de calouros, quadro do programa dominical do apresentador de TV Silvio Santos que deu popularidade a Aracy nos anos 1970 e 1980. Mas a cantora é bem mais importante e menos folclórica do que a jurada. Cantora da época dos discos de 78 rotações por minuto, Aracy lançou poucos álbuns. E quase todos, a exemplo do belo O samba em pessoa (Polydor, 1958), trouxeram no título a palavra samba. O samba foi mesmo dominante na discografia de Aracy de Almeida, mas cabe ressaltar que a Dama do Encantado foi muito mais do que a voz dos sambas do compositor carioca Noel Rosa (1910 - 1937). A obra de Aracy de Almeida extrapola a de Noel Rosa. É uma das mais perfeitas traduções da música do Brasil da fase pré-bossa nova.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

2014 é o ano do centenário de nascimento da cantora Aracy de Almeida

A chegada de 2014 abre - em tese - as comemorações do centenário de nascimento de Araci Teles de Almeida (19 de agosto de 1914 - 20 de junho de 1988) , memorável cantora carioca popularizada nos anos 1930 e 1940 com o nome artístico de Aracy de Almeida. A questão é saber se haverá de fato comemorações pela vinda ao mundo desta artista mais lembrada, por quem viveu os anos 1970 e 1980, como a jurada feia e ranzinza do Show de calouros, quadro do programa dominical do apresentador de TV Silvio Santos. Motivos não faltam para reedições de suas gravações, já que em 2014 a carreira fonográfica de Aracy - iniciada em janeiro de 1934 com a gravação de disco de 78 rotações por minuto editado pela gravadora Columbia - completa 80 anos. Cantora que subverteu os padrões comportamentais de época machista, Aracy de Almeida gravou discos com regularidade da década de 1930 aos dourados anos 1950. Foi, sim, uma das principais propagadoras do repertório do compositor carioca Noel Rosa (1910 - 1937) - inclusive na década de 1950, quando o Poeta da Vila já começava a ser esquecido - mas o fato é que a discografia de Aracy extrapola o cancioneiro de Noel. Araca também deu boa voz a muitas músicas do compositor carioca Roberto Martins (1909 - 1992). Compositores como o baiano Assis Valente (1911 - 1958) e o esquecido carioca Ciro de Souza (1911 - 1995) também são nomes recorrentes na obra fonográfica de Aracy de Almeida - obra atualmente distribuída entre os acervos das gravadoras Sony Music (herdeira dos discos da Columbia), Universal Music (desde 2013 dona dos fonogramas editados originalmente via Odeon) e Warner Music (detentora das gravações da Continental). O fato é que Aracy de Almeida caiu no samba com muita propriedade e foi uma das cantoras mais relevantes de sua época. Por isso mesmo, a agora centenária A dama do Encantado - epíteto preservado no título do antológico disco-tributo lançado pela cantora Olivia Byington em 1997 - merece ser lembrada pelo Brasil em 2014, o ano também do centenário de Dorival Caymmi (1914 - 2008).

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Dias revive com fluência 'gracejo' da brava Aracy em 'Cantoras do Brasil'

Resenha de programa de TV
Série: Cantoras do Brasil
Título: Andreia Dias Canta Aracy de Almeida
Idealização: Mariana Rolim, Mercedes Tristão e Simone Esmanhotto
Direção: Simone Elias
Emissora: Canal Brasil
Foto: Cris Valias
Cotação: * * *
Exibição programada pelo Canal Brasil para as 18h45m de 8 de novembro de 2012


Sem fazer gênero, Andreia Dias conta - em depoimento para o décimo dos 13 episódios da série Cantoras do Brasil, exibida pelo Canal Brasil às quintas-feiras - que, como todo mundo da sua geração, pensava que    Aracy de Almeida (1914 - 1988) fosse "apenas uma jurada do Silvio Santos". Mais tarde, ao pesquisar a obra do compositor Noel Rosa (1910-1937), a cantora paulistana descobriu que a folclórica Araca - então de fato somente conhecida por julgar com severidade os calouros do Programa Silvio Santos - também foi cantora, e das boas. Cantora de personalidade brava, "invocada", como ressalta Dias, mas com um "gracejo" no canto. A partir dessa descoberta, alguns sambas do repertório de Aracy passaram a integrar os roteiros dos shows da artista paulistana - casos dos sambas O Maior Castigo Que Eu te Dou (Noel Rosa, 1934) e Camisa Amarela (Ary Barroso, 1939), revividos com fluência por Dias sob a direção de Maurício Tagliari nesta série em que uma cantora contemporânea da voz a músicas de uma antecessora de tempos idos. No caso, com reverência. Feitos com os mesmos músicos, os dois números musicais do programa Andreia Dias Canta Aracy de Almeida jamais inventam moda. Os arranjos estão calcados nos violões (de Tagliari e de Pipop Pegoraro), no cavaquinho de Gabriel Muzak e na percussão de Flavio Lazzarin. Mas saltam aos ouvidos em O Maior Castigo Que Eu te Dou - samba de letra machista, escrita em sintonia com a moral vigente na sua época - as intervenções do clarinete de Luca Raele. Embora não ressalte toda a verve dos dois sambas com seu agudo registro vocal, Andreia Dias canta Aracy de Almeida com elegância.