Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


Mostrando postagens com marcador Retrô 2013. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Retrô 2013. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Retrô 2013: o som pulsa nas plataformas digitais, mas passado assombra

Retrospectiva 2013 - O ano de 2013 chegou ao fim sem grandes mudanças no universo pop. Realidade irreversível dos últimos anos, a audição e o consumo de músicas e discos nas plataformas digitais já faz parte do presente há tempos. Ao longo do ano, o som pulsou em portais e canais de música e vídeo, mas o passado assombrou. Tanto que a esperta cantora norte-americana Beyoncé Knowles causou reboliço ao lançar seu bom quinto álbum, Beyoncé, exclusivamente no iTunes, de surpresa, sem aviso prévio, em 13 de dezembro. Os lojistas do mundo físico protestaram contra a primazia digital. E houve até rede que se recusou a pôr o CD em suas prateleiras. E assim caminhou a humanidade musical ao longo deste ano de 2013. Dando um passo para frente e dois para trás. Como o mundo, aliás. O alto consumo de vinis - em rota ascendente no Brasil e no mundo - sinalizou que o apego de uns a sons e a formatos do passado ainda é uma realidade que vai ter conviver com a opção de outros pelo consumo exclusivamente digital (legal ou ilegal) de discos e músicas. O passado também assombrou na quantidade de registros ao vivo de shows de caráter retrospectivo. Sem ter nada de novo a dizer, cantores e grupos reciclaram sucessos em DVDs estéreis com o aval da indústria fonográfica, ainda apegada (por questões financeiras) aos sons e formatos desse passado que espreita a música do presente. Passado que também se manifestou em 2013 na forma de edições comemorativas de álbuns emblemáticos na construção do universo pop. Se um álbum realmente importante completou 20, 30 ou 40 anos de vida, esse disco provavelmente foi embalado em edições luxuosas turbinadas com material adicional para fisgar colecionadores de discos - raça resistente que alimentou a indústria fonográfica em 2013 com o mesmo apetite e voracidade que certamente o fará em 2014. Tudo novo de novo? Nem tanto. E o realmente novo por vezes chegou impregnado de sons do passado - caso do quarto irretocável álbum do duo francês de música eletrônica Daft Punk, Random access memories, um dos grandes discos do ano. A aura retrô do megahit Get lucky envolveu e deliciou o universo pop, revalorizando o guitarrista norte-americano Nile Rodgers, cujo toque chic também ajudou a formatar um outro hit, este restrito a essa terra brasilis, Mandou bem, grande sucesso black em parada nacional dominada por sertanejos de rala pegada pop e por dois funkeiros domesticados pela indústria do disco. Sim, Anitta e Naldo Benny se fizeram ouvir em 2013 (ele no embalo de sucesso que já veio de 2012). Prepare-se: fenômeno nativo do ano, Anitta ainda vai reinar em 2014, gravando em fevereiro DVD que vai ter a participação do rapper norte-americano Pitbull. De olho no futuro, Naldo Benny já mira o mercado externo, mas mostrou fôlego curto para encarar outros verões no segundo registro de show de sua carreira solo. Com a MPB relegada à margem do mercado fonográfico e consumida em nichos que são mais resistentes no Rio de Janeiro (RJ), poucos ouviram o estupendo álbum de inéditas do grupo carioca Boca Livre, Amizade, e o igualmente excelente tributo dos irmãos Danilo Caymmi, Dori Caymmi e Nana Caymmi ao patriarca Dorival Caymmi (1914 - 2008), cujo centenário de nascimento - a ser completado em abril de 2014 - vai motivar a reabertura da cortina do passado no próximo ano. Cortina que se manteve aberta em 2013 com saudações à cantora mineira Clara Nunes (1942 - 1983) - alvo de tributos de várias cantoras, com menção honrosa para o show Canto sagrado, transformado em CD/DVD pela cantora paulista Fabiana Cozza - e ao compositor e poeta carioca Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Dos dois discos mais relevantes feitos em tributo ao centenário de nascimento de Vinicius, um (a releitura contemporânea do repertório da Arca de Noé) se mostrou luminoso ao encarar o presente enquanto outro (A vida tem sempre razão, com gravações inéditas de nomes da MPB) se revelou apático, com ar de mofo, pautado pela estética do passado que assombra. Uma sombra desse passado também nublou a bela e melancólica balada, Where are you now?, que anunciou em janeiro a volta e o primeiro álbum em dez anos do então sumido camaleão inglês David Bowie. Apesar do título do álbum The next day sinalizar o futuro, Bowie apresentou um rock atemporal neste disco recorrente nas listas de melhores CDs de 2013. Em outra latitude da esfera internacional, Miley Cyrus sexualizou sua música a ponto de ter sido advertida pela irlandesa Sinéad O' Connor de que estava sendo induzida a se comportar como prostituta - comentário que enfureceu Cyrus e gerou bate-boca público. Aliás, a adolescente neozelandesa Lorde (uma das revelações do ano) chamou a atenção para a frivolidade do universo pop nas músicas de seu incensado álbum Pure heroine. Alheia à tal frivolidade, a cena indie do Brasil caminhou efervescente, por vezes sem estrutura empresarial, mas com gana de espantar o passado. O rapper paulista Emicida deu passo à frente ao lançar (enfim) seu primeiro álbum, O retorno glorioso de quem nunca esteve aqui, enquanto a índia indie Iara Rennó deglutiu influências modernistas em seu segundo álbum solo, I A R A, objeto de culto em nichos específicos dessa multifacetada cena independente movida tanto pelo patrocínio de editais culturais quanto pela mobilização de fãs em plataformas de financiamento coletivo e pela iniciativa privada de empreendedores como o DJ Zé Pedro, que deu em agosto a partida na série de tributos a Cazuza com Agenor, CD de sua gravadora Joia Moderna que mirou o presente, na contramão de outras homenagens calcadas no passado evocado até na forma de holograma. Visando o mainstream, o inspirado Marcelo Jeneci roçou a perfeição pop em primoroso segundo álbum, De graça, enquanto os olhos de farol de Ney Matogrosso focaram o presente em show, Atento aos sinais, de efervescência urbana captada no CD gravado em estúdio com músicas (Incêndio, Rua da passagem), que ganharam sentido adicional a partir de junho, quando manifestações sociais tomaram as ruas do Brasil sem uma trilha sonora - o que sinaliza que, a despeito de ter gerado grandes discos, 2013 chega ao fim sem ter se imposto como ano inesquecível no universo pop.

Retrô 2013: Dez discos internacionais que se destacaram ao longo do ano

1. Random access memories (Sony Music) - Daft Punk
    - O duo francês de música eletrônica atingiu o ápice com álbum pop, orgânico e retrô

2. The electric lady (Warner Music) - Janelle Monáe
    - Com eletrizante som de preto norte-americano, artista levou adiante sua saga sci-fi 

3. The next day (Sony Music) - David Bowie
    - Com rock atemporal, o camaleão inglês reapareceu e provou que estava (bem) vivo

4. Volume 3 (Merge Records / Lab 344) - She & Him
    - Viagem vintage do duo norte-americano alcançou a perfeição pop em CD delicioso

5. Yeezus (Def Jam / Universal Music) - Kanye West
    - Álbum de peso provou que o ego do rapper dos EUA é proporcional ao seu talento

6. Electric (x2 / Sony Music) - Pet Shop Boys
    - O produtor Stuart Price reacendeu (alto) a chama do synth-pop do duo britânico

7. Overgrown (Republic Records) - James Blake
     - No segundo álbum, o artista britânico delineou com precisão o seu recanto escuro

8. Once I was an eagle (Virgin / EMI Music) - Laura Marling
     - O folk da artista britânica atingiu belo ponto de crueza em disco longo e sombrio

9. Matangi (N.E.E.T. Recordings / Interscope Records) - M.I.A.
    - A artista inglesa recuperou o foco e a energia com álbum de rap made in Bollywood

10. ...Like clockwork (Matador Records / Lab 344) - Queens of the Stone Age
      - O grupo norte-americano suavizou o som, mas deu peso às letras, em grande disco

domingo, 29 de dezembro de 2013

Retrô 2013: Dez discos brasileiros que se destacaram ao longo deste ano

1. De graça (Slap / Som Livre) - Marcelo Jeneci
    - O cantor e compositor paulista roça o pop perfeito entre cordas e camadas de sons

2. Amizade (MP,B Discos / Universal Music) - Boca Livre
    - Aos 35 anos de vida, o grupo reaviva as tradições vocais sem repetir a mesma toada

3. Arpoador (Edição independente do artista) - Leo Tomassini
    - O artista carioca emerge entre ondas de Caetano Veloso, Chet Baker e João Gilberto

4. Atento aos sinais (Som Livre) - Ney Matogrosso
    - Em disco de estúdio, o cantor captou as estranhezas e as urgências de show quente 

5. Caymmi (Som Livre) - Danilo Caymmi, Dori Caymmi e Nana Caymmi
    - Os irmãos dão belo mergulho nas profundezas do mar do centenário Dorival Caymmi

6. Condição humana (Sobre o tempo) (Coaxo do Sapo / Tratore) - Guilherme Arantes
     - O coração do artista paulista volta a bater com vigor pop em disco de tom reflexivo

7. Embalar (Circus / Ná Recors) - Ná Ozzetti
    - Um disco de banda e de (excelentes) inéditas reiterou a dádiva da voz de Ná Ozzetti

8. Funky funky boom bom (Sony Music) - Jota Quest
    - Delicioso coquetel de sabor black faz deste disco festeiro e feliz o melhor do grupo

9. O retorno glorioso de quem nunca esteve aqui (Laboratório Fantasma) - Emicida
    - Em seu primeiro álbum, o rapper expõe os riscos e tensões da glória e dos guetos

10. The mediator between head and hands must be the heart (Substancial Music) - Sepultura
     - Com fúria, o grupo metaleiro apresenta seu disco de maior peso com Derrick Green

sábado, 28 de dezembro de 2013

Retrô 2013: doze belos shows que marcaram a cena multifacetada do ano

Retrô 2013 - Multifacetada como o mercado fonográfico brasileiro, a cena musical de 2013 teve grandes shows ao longo. Notas Musicais lista a seguir doze shows que se destacaram no ano. Eis, por ordem de entrada em cena, os melhores shows de 2013 na avaliação de Notas Musicais dentro do restrito raio de visão do editor do blog, cuja base é o Rio de Janeiro (RJ):

* Tudo esclarecido - Zélia Duncan (em foto de Roberto Setton)
- Entre luzes e sombras, a artista reanimou e aquietou o espírito dessossegado de Itamar Assumpção (1949-2003), reabrindo em cena a janela pop da obra do compositor paulista

* Atento aos sinais - Ney Matogrosso (em foto de Mauro Ferreira)
- Com seus olhos de farol, o camaleão focou compositores da cena 'indie' em show quente

* Os Paralamas do Sucesso 30 anos - Os Paralamas do Sucesso (em foto de Patrick Magalhães)
- Com sua habitual pegada afiada, o grupo carioca revisou 30 anos de coerente carreira

* Wanderléa... Maravilhosa - Wanderléa (em foto de Patrick Magalhães)
- Vivaz, a cantora refez a mistura carnavalizante do álbum de 1972 em que virou o disco

* Piano e voz - Zizi Possi (em foto de Rodrigo Amaral)
- Em show de entressafra, sem novidade no roteiro, Zizi reiterou a precisão de seu canto

* Wrecking ball tour - Bruce Springsteen (em foto de Estácio / Marcus Vini)
- O operário do rock norte-americano demoliu o muro entre astro e plateia no Rock in Rio

* The bridge - Lenine e Martin Fondse Orchestra (em foto de Rodrigo Amaral)
- A ponte erguida entre Brasil e Holanda conduziu a música de Lenine a ponto sublime

* Caymmi 100 anos - Danilo Caymmi, Dori Caymmi e Nana Caymmi (em foto de Rodrigo Amaral)
- Os três irmãos se afinaram ao abrir a festa pelo centenário de nascimento do patriarca da família, Dorival Caymmi (1914 - 2008), com direito a raridades da obra do mestre

* La noche más larga - Buika (em foto de Cristina Granato)
- À flor da pele que habita recantos escuros, a cantora e compositora espanhola acendeu o fogo da plateia do festival Back 2 Black, evocando a Mãe África com o seu flamenco

* Embalar - Ná Ozzetti (em foto de Rodrigo Amaral)
- Com sua voz dadivosa, a cantora bisou em cena a maestria de seu novo CD de inéditas

* Somos todos Amarildo - Caetano Veloso e Marisa Monte (em foto de Rodrigo Amaral)
- Em encontro histórico, os artistas celebraram o Rio de Janeiro com consciência social

* De graça - Marcelo Jeneci (em foto de Rodrigo Amaral)
- O artista reproduziu em cena a atmosfera do belo disco em que roçou a perfeição pop

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Retrô 2013 - Dez músicas que marcaram o ano e que sobreviverão a 2013

Retrô 2013 - Tendência irreversível dos últimos anos, o crescimento contínuo da audição e do consumo de música em formatos e plataformas digitais tem valorizado os singles em detrimento dos álbuns. Com seus lyric videos, vistos tanto nos celulares como no YouTube (portal audiovisual que desbancou a outrora poderosa MTV) e em canais similares, as músicas ganham vida cada vez mais independente dos discos para os quais foram gravadas. Sem falar que muitas são jogadas na rede sem vínculos com álbuns. Em qualquer plataforma, dez músicas lançadas ao longo de 2013 se tornaram irresistíveis. Eis cinco músicas brasileiras e cinco músicas estrangeiras que vão sobreviver ao ano que chega ao fim com hits memoráveis:

As cinco melhores músicas brasileiras de 2013 na avaliação do blog Notas Musicais:

* Irene (Rodrigo Amarante)
- Uma canção linda de doer que cita ao fim a homônima Irene (1969) de Caetano Veloso e que valoriza Cavalo, o primeiro (interiorizado) álbum solo do tristonho cantor e compositor carioca.

* Mandou bem (Gigi, Fábio O'Brian, Márcio Buzelin, Marco Túlio Lara, Paulinho Fonseca, PJ, Rogério Flausino, Jerry Barnes e Nile Rodgers)
- São tantos autores (nove!) que parece até samba-enredo, mas é o hit de Funky funky boom boom, CD do grupo mineiro Jota Quest (em foto de Ricardo Muniz). Um azeitado mix pop de funk, soul e disco music, feito com o toque chic da guitarra do norte-americano Nile Rodgers.

* Onde estava você? (Guilherme Arantes)
- Se estivéssemos nos anos 1980, a canção de Guilherme Arantes ia tocar direto nas FMs. Mas quem sintonizou o álbum de inéditas lançado este ano pelo cantor e compositor, Condição humana (Sobre o tempo), sabe que o coração paulista voltou a bater com toda sua força pop.

* Temporal (Marcelo Jeneci e Isabel Lenza)
- A sustentável leveza pop de Marcelo Jeneci gerou uma das canções mais sedutoras do segundo álbum do cantor e compositor paulista, De graça. Joia pop do quilate de hit nacional.

* Zoião (Emicida, Felipe Vassão e DJ Zala)
- A chapa está quente, mas o rapper paulista é mano antenado, que justificou a fama, a esperteza e o hype com seu primeiro álbum, O retorno glorioso de quem nunca esteve aqui.

As cinco melhores músicas estrangeiras de 2013 na avaliação do blog Notas Musicais:

* Blurred lines (Robin Thicke e Pharrell Williams)
- Pode até ser que tenha sido plágio de temas de Marvin Gaye (1939 - 1984) e George Clinton, como alegam os detratores do cantor e compositor norte-americano, mas o electro-disco-funk que batizou o sexto disco de Robin Thicke (foto) é simplesmente irresistível. Uma obra-prima! 

* Get lucky (Guy-Manuel de Homem-Christo, Thomas Bangalter, Nile Rodgers e Pharrell Williams)
- O duo francês tirou a sorte grande ao compor e gravar, com o toque da guitarra chic de Nile Rodgers, este disco-funk que fez o universo pop se curvar ao seu quarto e mais orgânico álbum.

* Love is bourgeois construct (Chris Lowe, Neil Tennant, Michael Nyman e Henry Purcell)
- Ao reciclar elementos de Chasing sheep is best left to shepherds (1984), tema criado pelo compositor britânico Michael Nyman com base em ária do também britânico Henry Purcell (1659 - 1695), o duo inglês gerou música eletrizante, grande destaque do disco, Electric, que reacendeu a chama synth-pop de Chris Lowe e Neil Tennant. Pet Shop Boys na melhor forma!!!

* Roar (Katy Perry, Lukasz Gottwald, Max Martin, Bonnie McKee e Henry Walter)
- A cantora norte-americana afiou as garras e mandou para o topo das paradas este petardo certeiro que iluminou Prism, seu quarto e melhor CD (no confronto com os fracos anteriores).

* Where are we now? (David Bowie)
- O universo pop se rendeu a essa bela balada de cunho reflexivo, cuja letra alude a vários points de Berlim, lançada de surpresa em janeiro pelo então sumido cantor e compositor inglês para anunciar a chegada, em março, de seu primeiro belo álbum em dez anos, The next day.