Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


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quarta-feira, 13 de abril de 2016

'Streaming' alavanca mercado fonográfico sem oferecer a posse da gravação

EDITORIAL - Os números divulgados ontem, 12 de abril de 2016, pela Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e pela Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFFI, em na sigla em inglês) apontam crescimento de 3,2% do mercado fonográfico mundial em 2015, no confronto com os dados de 2014. No Brasil, o crescimento foi ainda maior, de expressivos 10,15%, de acordo com dados da ABPD. Os serviços de streaming foram os responsáveis por essa alavanca da indústria do disco, sinalizando que o presente e o futuro do mercado da música já são mesmo definitivamente digitais. No Brasil, as vendas de CDs e DVDs totalizaram 39,4% das vendas do mercado fonográfico enquanto o comércio digital de música e discos - incluindo downloads pagos via lojas virtuais como o iTunes e audição em plataformas de streaming como Deezer e Spotify - dominou a indústria com os 60,6% restantes. No mercado fonográfico mundial, as vendas de CDs e DVDs geraram 47% da receita da indústria da música enquanto o comércio digital totalizou os 53% restantes. Esses números sinalizam certo alento para a indústria fonográfica, que volta a crescer em escala mundial, mas não resolvem questões que já se impõem relevantes. A maior delas diz respeito à remuneração dos cantores - donos das vozes, mas não das obras na grande maioria - e dos compositores, estes sequer creditados nas plataformas digitais de venda e audição de música. Os artistas - os criadores que alavancam a indústria da música - pouco ou nada lucram com o crescimento do mercado fonográfico, já que os rendimentos ficam concentrados nas plataformas digitais e nas gravadoras. É preciso fatiar o bolo de forma mais justa. Outra questão diz respeito à posse dos fonogramas. Quem compra um CD ou DVD adquire para sempre as gravações contidas naquele produto. Quem ouve música em plataformas de streaming fica sujeito aos acordos entre gravadoras e artistas. Atualmente, a obra de Marisa Monte se encontra disponível no Spotify, por exemplo. Mas o consumidor de música dessa plataforma jamais terá a garantia de que poderá ouvir os discos da cantora carioca daqui a cinco ou dez anos. Acordos e desacordos entre artistas, gravadoras e plataformas digitais de audição de músicas podem sentenciar a remoção da obra de determinado artista de um serviço de streaming. E, nesse caso, o consumidor perde o acesso a essa obra. De todo modo, as vendas de CDs e DVDs - que totalizaram 25 milhões de unidades no Brasil em 2015 - tendem a seguir em queda até se estabilizarem em determinado patamar. Contra todos os prognósticos pessimistas, o CD vai continuar vivo no mercado fonográfico mundial. Nem que seja pelo prazer tátil provocado pela compra de formatos físicos - o que justifica a revitalização do vinil na indústria da música e a recente onda de fabricação de cassetes. Mas isso tampouco justifica posturas arcaicas como a do Selo Sesc, que ignora completamente o mercado de música digital, dificultando o acesso a discos de artistas que têm álbuns editados pelo selo paulistano, casos de João Donato e Romulo Fróes, por exemplo. No resumo da ópera, o presente da música já é digital, mas o CD jamais vai desaparecer do mercado. Até porque ele garante ao ouvinte a posse definitiva de gravações - o que as plataformas de streaming não podem oferecer...