sexta-feira, 20 de maio de 2016

Caixa 'Três tons de MPB-4' revitaliza álbuns de fase áurea do politizado grupo

Resenha de caixa de CDs
Título: Três tons de MPB-4
Artista: MPB-4
Gravadora: Universal Music
Cotação da caixa: * * * * *
Cotação dos álbuns: 10 anos depois (* * * * *) Canto dos homens (* * * * ) Vira virou (* * * 1/2)

Uma das célebres parcerias de Chico Buarque com Francis Hime, Passaredo ganhou registro de Chico em 1976 e deu nome ao álbum lançado por Francis em 1977. Mas a gravação original foi feita pelo MPB-4 - com arranjo orquestrado pelo próprio Francis - em 10 anos depois (Philps, 1975), décimo álbum do grupo fluminense cujas origens remontam a 1962 no Centro Popular de Cultura de Niterói (RJ). O título 10 anos depois aludia à década de atividades oficiais do quarteto que debutara em disco com compacto simples editado em 1964 e que se profissionalizara no ano seguinte, 1965. A edição da caixa Três tons de MPB-4 é fundamental para a preservação da memória musical brasileira. De 1966 a 1984, o grupo lançou - pelas gravadoras Elenco, Philips, Ariola e Barclay - 20 álbuns pautados pela coerência e consciência social aguçada já na época do CPC. A rigor, todos estes 20 álbuns mereciam estar sendo reeditados em caixa para que o supra-sumo da discografia do grupo fosse preservada no formato de CD. Por ora, é um alento a edição de três relevantes álbuns do grupo - o já citado 10 anos depois (Philips, 1975), Canto dos homens (Philips, 1976) e Vira virou (Ariola, 1980) - na caixa da série Tons, produzida por Alice Soares (profissional do departamento de marketing da Universal Music) com seleção de títulos e textos do produtor Thiago Marques Luiz. A caixa Três tons de MPB-4 mantém o alto padrão de qualidade da série que recupera títulos do acervo da Universal Music que estavam fora de catálogo e que, no caso dos três álbuns do MPB-4, permaneciam inéditos no formato de CD. Além da reprodução da arte gráfica dos LPs originais, a remasterização - feita por Luigi Hoffer e Carlos Savalla no estúdio DMS  (Digital Mastering Solutions) - deixa o som tinindo como se os álbuns estivesse saindo neste ano de 2016. E que álbuns! O repertório em si é de bom nível. Mas o trunfo do MPB-4 residia nos arranjos vocais de Antônio José Waghabi Filho (14 de novembro de 1943 - 8 de agosto de 2012), o Magro, integrante da formação original do quarteto. Sofisticados, mas não a ponto de tornar o som do quarteto inacessível para o chamado grande público, os arranjos vocais de Magro tornavam irrelevantes o fato de a música ser ou não inédita quando gravada pelo MPB-4. Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá e Antonio Maria, 1959), por exemplo, ressurge com outra luz no álbum 10 anos depois por conta dos surpreendentes acordes do arranjo vocal de Magro. Mas a melodia e a letra estão todas lá na gravação de Aquiles, Magro, Miltinho e Ruy Faria (que sairia do grupo em 2004). Porque o MPB-4 sempre dava o pessoal toque vocal às músicas sem desfigurar as melodias. Alguns temas soam arrepiantes, caso de Canto triste (Edu Lobo e Vinicius de Moraes, 1966), ouvido a capella em 10 anos depois. Com menor cota de clássicos da MPB no repertório, Canto dos homens é disco que deu o recado político do grupo - através de letras de músicas de Chico Buarque, Ivan Lins, João Bosco & Aldir Blanc, entre outros compositores engajados - e lançou composições como Moreno (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1976), que vem a ser versão com letra do instrumental Tema de Tostão (Milton Nascimento, 1970), apresentado por Milton Nascimento seis anos antes em gravação feita para a trilha sonora de filme sobre o jogador de futebol. No todo, Canto dos homens soa sem o frescor do antecessor 10 anos depois sem deixar de ser álbum contundente. Bola ou búlica (João Bosco e Aldir Blanc, 1975) desce redonda ao cair no suingue do samba sincopado típico da dupla de compositores. Terceiro título da caixa, Vira virou - primeiro álbum do MPB-4 na então recém-aberta (no Brasil) gravadora Ariola - acenou com mudança no som e nos arranjos vocais. O som ficou mais elétrico e mais vibrante, afinado com a revolução estética que desembocaria no tecnopop, tônica dos discos da década de 1980. Os vocais ganharam outros tons e harmonias, já sob a influência da chegada do Boca Livre, sensação da cena musical brasileira de 1979. A lua (Renato Rocha, 1980) foi o maior sucesso de um repertório abordado com pegada mais pop pelo MPB-4. Em Vira virou, disco batizado com a canção de inspiração lusitana (de autoria de Kleiton Ramil) que fez mais sucesso nas vozes da dupla gaúcha Kleiton & Kledir, o grupo lançou o xote Por toda lã - do então emergente Alceu Valença (já na estrada ao longo dos anos 1970, mas em momento de ampliação de púbico)  - e Bilhete (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980), doída canção de separação que somente encontraria a voz certa e o sucesso ao ser gravada por Fafá de Belém em 1982. Ao longo da década de 1980, o MPB-4 teria dificuldades mercadológicas para manter o nível de discografia que atingiu o auge justamente entre 1966 e 1984. Nesse período, os tons do MPB-4 foram muitos e todos foram relevantes. Que outros tons do grupo sejam revitalizados, pois!

10 comentários:

  1. ♪ Uma das célebres parcerias de Chico Buarque com Francis Hime, Passaredo ganhou registro de Chico em 1976 e deu nome ao álbum lançado por Francis em 1977. Mas a gravação original foi feita pelo MPB-4 - com arranjo orquestrado pelo próprio Francis - em 10 anos depois (Philps, 1975), décimo álbum do grupo fluminense cujas origens remontam a 1963 no Centro Popular de Cultura de Niterói (RJ). O título 10 anos depois aludia à década de atividades oficiais do quarteto que debutara em disco com compacto simples editado em 1964 e que se profissionalizara no ano seguinte, 1965. A edição da caixa Três tons de MPB-4 é fundamental para a preservação da memória musical brasileira. De 1966 a 1984, o grupo lançou - pelas gravadoras Elenco, Philips, Ariola e Barclay - 19 álbuns pautados pela coerência e consciência social aguçada já na época do CPC. A rigor, todos estes 19 álbuns mereciam estar sendo reeditados em caixa para que o supra-sumo da discografia do grupo fosse preservada no formato de CD. Por ora, é um alento a edição de três relevantes álbuns do grupo - o já citado 10 anos depois (Philips, 1975), Canto dos homens (Philips, 1976) e Vira virou (Ariola, 1980) - na caixa da série Tons, produzida por Alice Soares (profissional do departamento de marketing da Universal Music) com seleção de títulos e textos do produtor Thiago Marques Luiz. A caixa Três tons de MPB-4 mantém o alto padrão de qualidade da série que recupera títulos do acervo da Universal Music que estavam fora de catálogo e que, no caso dos três álbuns do MPB-4, permaneciam inéditos no formato de CD. Além da reprodução da arte gráfica dos LPs originais, a remasterização - feita por Luigi Hoffer e Carlos Savalla no estúdio DMS (Digital Mastering Solutions) - deixa o som tinindo como se os álbuns estivesse saindo neste ano de 2016. E que álbuns! O repertório em si é de bom nível. Mas o trunfo do MPB-4 residia nos arranjos vocais de Antônio José Waghabi Filho (14 de novembro de 1943 - 8 de agosto de 2012), o Magro, integrante da formação original do quarteto. Sofisticados, mas não a ponto de tornar o som do quarteto inacessível para o chamado grande público, os arranjos vocais de Magro tornavam irrelevantes o fato de a música ser ou não inédita quando gravada pelo MPB-4. Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá e Antonio Maria, 1959), por exemplo, ressurge com outra luz no álbum 10 anos depois por conta dos surpreendentes acordes do arranjo vocal de Magro. Mas a melodia e a letra estão todas lá na gravação de Aquiles, Magro, Miltinho e Ruy Faria (que sairia do grupo em 2004). Porque o MPB-4 sempre dava o pessoal toque vocal às músicas sem desfigurar as melodias. Alguns temas soam arrepiantes, caso de Canto triste (Edu Lobo e Vinicius de Moraes, 1966), ouvido a capella em 10 anos depois.

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  2. Com menor cota de clássicos da MPB no repertório, Canto dos homens é disco que deu o recado político do grupo - através de letras de músicas de Chico Buarque, Ivan Lins, João Bosco & Aldir Blanc, entre outros compositores engajados - e lançou composições como Moreno (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1976), que vem a ser versão com letra do instrumental Tema de Tostão (Milton Nascimento, 1970), apresentado por Milton Nascimento seis anos antes em gravação feita para a trilha sonora de filme sobre o jogador de futebol. No todo, Canto dos homens soa sem o frescor do antecessor 10 anos depois sem deixar de ser álbum contundente. Bola ou búlica (João Bosco e Aldir Blanc, 1975) desce redonda ao cair no suingue do samba sincopado típico da dupla de compositores. Terceiro título da caixa, Vira virou - primeiro álbum do MPB-4 na então recém-aberta (no Brasil) gravadora Ariola - acenou com mudança no som e nos arranjos vocais. O som ficou mais elétrico e mais vibrante, afinado com a revolução estética que desembocaria no tecnopop, tônica dos discos da década de 1980. Os vocais ganharam outros tons e harmonias, já sob a influência da chegada do Boca Livre, sensação da cena musical brasileira de 1979. A lua (Renato Rocha, 1980) foi o maior sucesso de um repertório abordado com pegada mais pop pelo MPB-4. Em Vira virou, disco batizado com a canção de inspiração lusitana (de autoria de Kleiton Ramil) que fez mais sucesso nas vozes da dupla gaúcha Kleiton & Kledir, o grupo lançou o xote Por toda lã - do então emergente Alceu Valença (já na estrada ao longo dos anos 1970, mas em momento de ampliação de púbico) - e Bilhete (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980), doída canção de separação que somente encontraria a voz certa e o sucesso ao ser gravada por Fafá de Belém em 1982. Ao longo da década de 1980, o MPB-4 teria dificuldades mercadológicas para manter o nível de discografia que atingiu o auge justamente entre 1966 e 1984. Nesse período, os tons do MPB-4 foram muitos e todos foram relevantes. Que outros tons do grupo sejam revitalizados, pois!

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  3. Lindos!

    Que venha mais trabalhos antigos em CD's REMASTERIZADOS, desse querido e talentoso grupo. AMOOOOOOOOOOOOO :)

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  4. Caixa essencial pra quem gosta de boa música e do genial MPB-4!

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  5. A discografia do Mpb4 é impecável! Merece uma caixa urgente!
    Mauro, com "Doída cancão de separação que somente encontraria a voz certa e o sucesso ao ser gravada por Fafá de Belém ..." você espalhou poesia!

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  6. Mauro, você tem alguma notícia sobre a retomada da coleção Tons pela Universal? Há possibilidade de novas caixas?

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  7. Realmente, a qualidade sonora do box é de outros mundos!

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  8. Que noticia maravilhosa! Que venha um box completo com todos os cds do MPB4

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  9. Quem venham os próximos cito apenas três para lembrar: Palhaços e Reis, De palavra em Palavra e parece brincadeira o "Bons Tempos, Hein?"

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  10. Faço coro ao Antonio: será que vem mais boxes por aí? Tomara que sim! :-)

    Abraços a todos.
    Att.,
    Ronaldo Mendonça.

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