sábado, 24 de outubro de 2015

Dá no Coro segue tons vívidos de grupos vocais nativos em 'Cores do Brasil'

Resenha de CD
Título: Cores do Brasil
Artista: Dá no Coro
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * 1/2

Coletivo carioca formado por 16 vozes, harmonizadas sob a direção de Sérgio Sansão, Dá no Coro segue os tons herdados das tradições dos grupos vocais nacionais como Garganta Profunda em Cores do Brasil, álbum inspirado nas pinturas do artista plástico Paulo Symões, cujos quadros são reproduzidos em dez postais encartados no encarte duplo do CD com as letras e os créditos dos compositores das 10 músicas do disco. Neste segundo álbum, produzido por Sansão, o Dá no Coro dá vozes a essas 10 músicas do cancioneiro brasileiro, assinadas por grandes compositores, com sofisticação. As vozes foram harmonizadas por maestros experientes neste gênero de arranjo - André Protasio, Augusto Ordine, Flávio Mendes, Kodiak Agüero, Paulo Malaguti Pauleira e Zeca Rodrigues  - em gravações às quais foram adicionadas percussões, baixo (o de Pedro Sabino) e violão (o de Maurício Teixeira). Base que sustenta a abordagem do afro-samba Água de beber (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961), a interação das vozes com as percussões é uma das marcas do Dá no Coro, grupo criado em 2004 na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Alocada na abertura do disco, a leitura de Caxangá (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1977)  já ostenta a vibração típica de grupos vocais. A propósito, a obra épica e mineira do carioca Milton Nascimento favorece tais vocalizações. E não é por acaso que a segunda das dez músicas do disco, Vera Cruz (Milton Nascimento e Márcio Borges, 1968), também é da lavra original de Bituca. Em Vera Cruz, o Dá no Coro acertadamente baixa a voltagem da alegria para realçar - ainda que na superfície da emoção - a tristeza embutida em versos embebidos em pranto e dor. Já Tuaregue nagô (Lenine e Bráulio Tavares, 1993) evoca no canto solo da abertura e no arranjo toda a negritude ancestral e africana que envolve a composição - o próprio Brasil - e também o jongo Vapor da Paraíba (Mestre Fuleiro e Vovó Tereza), tema do repertório do grupo carioca Jongo da Serrinha que o Dá no Coro sustenta com sua forte base percussiva. De arquitetura mais branca, Casa forte (Edu Lobo, 1966) é tema instrumental que o Dá no Coro leva em frenéticos vocalises. Em tempo de maior delicadeza, Lua girou orbita no tom de lirismo popular deste tema do folclore brasileiro recolhido na região de Beira-Rio, na Bahia. Por sua vez, o molho latino da salsa Tanta saudade (Chico Buarque e Djavan, 1983) poderia ter seu delicioso gosto mais realçado no registro do Dá no Coro. O tempero ardido do samba Linha de passe (João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio, 1979) soa mais no ponto. No fecho do disco, o grupo reveste Fantasia (Chico Buarque, 1979) de vozes inicialmente femininas de tons quase melancólicos. Mas, à medida que a faixa vai avançando, vozes femininas e masculinas se harmonizam para evidenciar a alegria, a graça, a esperança e o gozo que pautam o tema de Chico Buarque e, em diferentes graus, as dez músicas deste disco vívido. Músicas que dão no coro com as vozes e com as percussões alinhadas pelo Dá no Coro em Cores do Brasil, disco de tons cintilantes.

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Já assisti alguns shows, é um grupo que merece mais visibilidade.

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  3. Boa tarde. Sou um dos integrantes do Dá no Coro. Obrigado por citar nosso trabalho em seu Blog! Informo que todos os compositores tiveram seus créditos nos postais encartados com as devidas letras no CD. Se possível, faça a correção do seu texto.
    Desde já, agradeço
    Alexandre Meritello

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  4. Oi, Alexandre, boa tarde! Já corrigi o texto. Peço desculpas por não ter atentado para os créditos dos compositores nos versos dos postais. Eu cheguei a ver postal por postal, mas não os virei. Tinha entendido que eram apenas reproduções da obra do artista plástico. Abs, Mauro Ferreira

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