domingo, 19 de abril de 2015

(In)tenso, urgente e experimental, 'É' afirma Duda Brack como 'a' voz de 2015

Resenha de CD
Título: É
Artista: Duda Brack
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * * *
Disco disponível para download gratuito no site oficial de Duda Brack

"Eu sou o traço que emerge e torna possível sonhar". Na voz quente de Duda Brack, o verso da letra de Eu sou o ar - música do compositor mineiro César Lacerda que abre o primeiro álbum dessa cantora gaúcha de 21 anos que se radicou na cidade do Rio de Janeiro (RJ) desde os 18 - tem e faz sentido. Eu sou o ar é canção asfixiante, por um triz, que dá o tom e a pista de É, disco produzido por Bruno Giorgi que afirma Duda Brack como a primeira grande voz feminina a emergir neste ano de 2015. Faixa formatada com a adesão de Dani Black na bateria de boca, Eu sou o ar se insinua como uma canção de MPB, mas logo vira rock. É é assim: um disco que poderia ser de MPB contemporânea, mas que vira e soa rocker na atitude e na pegada elétrica do trio formado por Gabriel Barbosa (na bateria), Gabriel Ventura (na guitarra) e Yuri Pimentel (no baixo). Com essa banda-base, Brack precisa somente de oito músicas para marcar posição em É, dando passo decisivo em carreira que já tinha chamado certa atenção na cena indie do eixo Rio-São Paulo quando, em 2013, a cantora defendeu a música Because ousa (Dani Black e João Guarizo) em festivais do circuito alternativo. É é disco tenso, urgente, experimental, com nulas possibilidades comerciais no mainstream, até pelo fato de reunir composições de artistas ainda em busca de seu lugar. De estética bem traduzida na capa que expõe arte de Flora Borsi, É é disco difícil que se desvia do caminho das melodias fáceis e se embrenha no terreno pantanoso do indie rock. Com seu canto visceral (mas sem cair no grito e no exagero vocal), Brack mostra atitude. "Para, tá na cara que não tem mais eu e você / Fica com esse cara que tem cara de quem quer maltratar você", dá a decisão em Vaza, música da emergente compositora fluminense Tais Feijão. Nessa música, o baterista Gabriel Barbosa - músico da banda carioca Posada e o Clã - assume a percussão meio tribal que, somada às vozes incidentais inseridas no arranjo coletivo, faz com que a canção entre em espécie de transe ritualístico. Na sequência, Lata de tinta (Paulo Monarco e Elio Camalle) transforma bossa nova em rock'n'roll e reitera que melodias são rarefeitas em É. Impressão confirmada por Dez dias, música do recorrente compositor paulistano Dani Black que eleva a dose experimental do álbum entre dissonâncias, atonalidades e psicodelia. Parceria dos compositores Paulo Monarco (de Cuiabá - MT) e Celso Viáfora (de SP), Venha é convite à imersão no rascante universo musical de Brack. "Se você não me quiser, me diga logo / Diga tudo que quiser, mas diga agora / Eu não gosto de esperar, prefiro aceitar o não", avisa e cobra a cantora através dos versos urgentes de Te ver chegar (Paulo Novaes), a música quase pop de um disco que se recusa a vestir a armadura pop radiofônica. Rock que alterna ritmos e levadas, com direito a um falso final, Cadafalso (Carlos Posada) se ajusta à atmosfera tensa que asfixia afetos ("Virou corda no pescoço esse colar de madrepérola"e que dá o tom nublado desse disco em que a jovem cantora consegue a proeza de "desvendar o sagrado segredo de tocar o intocável intocado", como diz na fala embutida após a faixa final, A casa não cairá (Caio Prado), rock distorcido pelo toque da guitarra de Gabriel Ventura. "Se não for, eu vou assim mesmo", avisa a intérprete em verso recitado da música de Prado. Pois venha, Duda Brack, caprichosa (a ponto de dar sua voz somente às músicas de sua turma), agressiva (a ponto de falar a língua do rock sem papas na língua), incendiária (a ponto de abrasar cada música com seu canto fervido) e ensandecida (a ponto de debutar nesse mercado já por si insano com álbum suicida em termos comerciais). Mas venha para embaralhar as cartas já marcadas da música pop brasileira e para espanar os vícios já enraizados no frágil mercado independente nativo! Duda Brack pode ser. E é!

10 comentários:

  1. ♪ "Eu sou o traço que emerge e torna possível sonhar". Na voz quente de Duda Brack, o verso da letra de Eu sou o ar - música do compositor mineiro César Lacerda que abre o primeiro álbum dessa cantora gaúcha de 21 anos que se radicou na cidade do Rio de Janeiro (RJ) desde os 18 - tem e faz sentido. Eu sou o ar é canção asfixiante, por um triz, que dá o tom e a pista de É, disco produzido por Bruno Giorgi que afirma Duda Brack como a primeira grande voz feminina a emergir neste ano de 2015. Faixa formatada com a adesão de Dani Black na bateria de boca, Eu sou o ar se insinua como uma canção de MPB, mas logo vira rock. É é assim: um disco que poderia ser de MPB contemporânea, mas que vira e soa rocker na atitude e na pegada elétrica do trio formado por Gabriel Barbosa (na bateria), Gabriel Ventura (na guitarra) e Yuri Pimentel (no baixo). Com essa banda-base, Brack precisa somente de oito músicas para marcar posição em É, dando passo decisivo em carreira que já tinha chamado certa atenção na cena indie do eixo Rio-São Paulo quando, em 2013, a cantora defendeu a música Because ousa (Dani Black e João Guarizo) em festivais do circuito alternativo. É é disco tenso, urgente, experimental, com nulas possibilidades comerciais no mainstream, até pelo fato de reunir composições de artistas ainda em busca de seu lugar. De estética bem traduzida na capa que expõe arte de Flora Borsi, É é disco difícil que se desvia do caminho das melodias fáceis e se embrenha no terreno pantanoso do indie rock. Com seu canto visceral (mas sem cair no grito e no exagero vocal), Brack mostra atitude. "Para, tá na cara que não tem mais eu e você / Fica com esse cara que tem cara de quem quer maltratar você", dá a decisão em Vaza, música da emergente compositora fluminense Tais Feijão. Nessa música, o baterista Gabriel Barbosa - músico da banda carioca Posada e o Clã - assume a percussão meio tribal que, somada às vozes incidentais inseridas no arranjo coletivo, faz com que a canção entre em espécie de transe ritualístico. Na sequência, Lata de tinta (Paulo Monarco e Elio Camalle) transforma bossa nova em rock'n'roll e reitera que melodias são rarefeitas em É. Impressão confirmada por Dez dias, música do recorrente compositor paulistano Dani Black que eleva a dose experimental do álbum entre dissonâncias, atonalidades e psicodelia. Parceria dos compositores paulistas Paulo Monarco e César Viáfora, Venha é convite a uma imersão no rascante universo musical de Brack. "Se você não me quiser, me diga logo / Diga tudo que quiser, mas diga agora / Eu não gosto de esperar, prefiro aceitar o não", avisa e cobra a cantora através dos versos urgentes de Te ver chegar (Paulo Novaes), a música quase pop de um disco que se recusa a vestir a armadura pop radiofônica. Rock que alterna ritmos e levadas, com direito a um falso final, Cadafalso (Carlos Posada) se ajusta à atmosfera tensa que asfixia afetos ("Virou corda no pescoço esse colar de madrepérola") e que dá o tom nublado desse disco em que a jovem cantora consegue a proeza de "desvendar o sagrado segredo de tocar o intocável intocado", como diz na fala embutida após a faixa final, A casa não cairá (Caio Prado), rock distorcido pelo toque da guitarra de Gabriel Ventura. "Se não for, eu vou assim mesmo", avisa a intérprete em verso recitado da música de Prado. Pois venha, Duda Brack, caprichosa (a ponto de dar sua voz somente às músicas de sua turma), agressiva (a ponto de falar a língua do rock sem papas na língua), incendiária (a ponto de abrasar cada música com seu canto fervido) e ensandecida (a ponto de debutar nesse mercado já por si insano com álbum suicida em termos comerciais). Mas venha para embaralhar as cartas já marcadas da música pop brasileira! Duda Brack pode ser. E é!

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  2. Eu adorei o álbum. Muito original, muito foda. Vale a pena ouvir !!!

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  3. Concordo inteiramente com o Mauro: Duda é a voz de 2015! Há anos uma cantora não me deixa tão viciado em sua voz! Divina! Mais que um fã aqui!

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  4. gostei do disco tb. a voz dela lembra a da Gadú às vezes, mas a ousadia transborda em Duda. "Cadafalso" é muito bacana, encontrar Celso Viáfora nos créditos é outro barato. ela se deu muito bem comendo pelas beiradas. disquinho home made com potência. tá certíssima e de parabéns.

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  5. Mauro só umas pequenas correções: "Venha"é parceria de Celso, e não César, Viáfora com Paulo Monarco, que na verdade é de Cuiabá, e não paulista, embora ele esteja morando em Sampa atualmente.

    Abs
    ˆˆ

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  6. Grato, Sid. Claro que é Celso Viáfora. Abs, MauroF

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  7. Disco interessante, mas 5 estrelas? Longe disso...

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  8. Pronto...Chegou a nova Alice Caymmi...

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  9. Nossa adorei este disco! Bem diferente, bem ousado, mas na medida certa.

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  10. Disco realmente ótimo. Entranho e ótimo. Gostei muito da voz e do canto da Duda (que, concordo com o Pedro, em alguns momentos lembra a Gadú). Trabalho interessante e corajoso pra uma estreia. Mandou muito bem! (Só que, em maio, desculpa, a moça está looonge de ser ~ a voz de 2015 ~.)


    Mas o destaque da turma da Duda, para mim, é Caio Prado. "Variável Eloquente", disco de estreia do cantautor, é belíssimo. Cheio de camadas - com poesia forte e melodias que não permitem indiferença. Cordas por todo o álbum, voz linda (mesmo com limitações de extensão)... maravilhoso, sofisticado... Merecia muito seu tempo, Mauro (não vi o disco resenhado aqui no blog). Se não me engano, o trabalho foi lançado em setembro do ano passado. Só "descobri" há algumas semanas. Enfim... "Não recomendado", faixa do disco, é uma das canções mais lindas que eu ouvi este ano.

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