sábado, 29 de outubro de 2011

Coletânea dupla documenta a bossa e a leveza iniciais do canto de Doris

Resenha de CD
Título: Doris Monteiro 60
Artista: Doris Monteiro
Gravadora: Discobertas
Cotação: * * * 1/2

Doris Monteiro sempre foi cantora de muita bossa. A ponto de ter se imposto ao longo dos anos 50 - quando a bossa nova ainda estava sendo formatada por João Gilberto - com sua voz pequena para os padrões da década. Produzida por Marcelo Fróes para seu selo Discobertas, a coletânea dupla Doris Monteiro 60 festeja os 60 anos de carreira fonográfica da cantora, que entrou em estúdio pela primeira vez em 7 de agosto de 1951 para gravar disco de 78 rotações por minuto pela extinta gravadora Todamérica. Com capa que reproduz a imagem kitsch de uma coletânea editada pela Todamérica na época, a atual compilação  dupla alinha todas as 29 gravações feitas por Doris entre 1951 e 1956 para 15 discos de 78 rotações editados pelas gravadoras Todamérica e Continental. Nessa fase, que não é a melhor da discografia da artista, a cantora iniciante pôs sua voz em boleros e em sambas-canções de estilo sentimental. Mas, já experimentando o estilo que iria se consolidar ao longo dos anos 60, Doris jamais carrega nas tintas ao interpretar tais temas, compostos conforme o gosto da época. Ao contrário, seu canto soa sempre mais leve do que as letras, embora estas, justiça seja feita, não fossem tão pesadas como mandava a cartilha do gênero. Entre boleros e eventuais sambas de molde mais tradicional (caso de Em Mangueira, gravado em 1953), a seleção de Doris Monteiro 60 rebobina a gravação original - lançada em outubro de 1955 - do maior sucesso da cantora nessa fase seminal, Dó-Ré-Mi, samba-canção de Fernando César, principal fornecedor de repertório para Doris nessa época. Dispostas em ordem cronológica, as 29 gravações têm alto valor documental. Contudo, tais registros representam somente a semente de um canto suave e moderno que iria evoluir quando Doris migrou para a Columbia em 1957- ano em que gravou o samba Mocinho Bonito (Billy Blanco), um de seus sucessos memoráveis - e que se solidificaria nos anos 60 a partir da entrada de Doris na Philips, em 1961. Favorecida pelos ventos modernos soprados pela Bossa Nova, então já oficializada, a cantora encontrou o caminho livre para sedimentar seu estilo de canto. Na Philips (e posteriormente na Odeon), Doris gravou os melhores títulos de sua discografia, com muito (sam)balanço e uma bossa toda especial que lhe garantem lugar de honra entre as cantoras brasileiras. Mas a caminhada teve seus tímidos passos iniciais, ora reconstituído nesta eficaz coletânea dupla Doris Monteiro 60.

Um comentário:

  1. Doris Monteiro sempre foi cantora de muita bossa. A ponto de ter se imposto ao longo dos anos 50 - quando a bossa nova ainda estava sendo formatada por João Gilberto - com sua voz pequena para os padrões da década. Produzida por Marcelo Fróes para seu selo Discobertas, a coletânea dupla Doris Monteiro 60 festeja os 60 anos de carreira fonográfica da cantora, que entrou em estúdio pela primeira vez em 7 de agosto de 1951 para gravar disco de 78 rotações por minuto pela extinta gravadora Todamérica. Com capa que reproduz a imagem kitsch de uma coletânea editada pela Todamérica na época, a atual compilação dupla alinha todas as 29 gravações feitas por Doris entre 1951 e 1956 para 15 discos de 78 rotações editados pelas gravadoras Todamérica e Continental. Nessa fase, que não é a melhor da discografia da artista, a cantora iniciante pôs sua voz em boleros e em sambas-canções de estilo sentimental. Mas, já experimentando o estilo que iria se consolidar ao longo dos anos 60, Doris jamais carrega nas tintas ao interpretar tais temas, compostos conforme o gosto da época. Ao contrário, seu canto soa sempre mais leve do que as letras, embora estas, justiça seja feita, não fossem tão pesadas como mandava a cartilha do gênero. Entre boleros e eventuais sambas de molde mais tradicional (caso de Em Mangueira, gravado em 1953), a seleção de Doris Monteiro 60 rebobina a gravação original - lançada em outubro de 1955 - do maior sucesso da cantora nessa fase seminal, Dó-Ré-Mi, samba-canção de Fernando César, principal fornecedor de repertório para Doris nessa época. Dispostas em ordem cronológica, as 29 gravações têm alto valor documental. Contudo, tais registros representam somente a semente de um canto suave e moderno que iria evoluir quando Doris migrou para a Columbia em 1957- ano em que gravou o samba Mocinho Bonito (Billy Blanco), um de seus sucessos memoráveis - e que se solidificaria nos anos 60 a partir da entrada de Doris na Philips, em 1961. Favorecida pelos ventos modernos soprados pela Bossa Nova, então já oficializada, a cantora encontrou o caminho livre para sedimentar seu estilo de canto. Na Philips (e posteriormente na Odeon), Doris gravou os melhores títulos de sua discografia, com muito (sam)balanço e uma bossa toda especial que lhe garantem lugar de honra entre as cantoras brasileiras. Mas a caminhada teve seus tímidos passos iniciais, ora reconstituído nesta eficaz coletânea dupla Doris Monteiro 60.

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