segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ney realça contundência da obra de Itamar em show com Isca de Polícia

Resenha de show
Título: Ney Matogrosso Canta Itamar Assumpção com Isca de Polícia
Artista: Ney Matogrosso e Isca de Polícia (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Sesc Vila Mariana (São Paulo, SP)
Data: 19 de junho de 2011
Cotação: * * * * 1/2

Por mais que seja um artista associado ao mainstream da música brasileira, Ney Matogrosso quase sempre transitou também pelas margens, transgredindo e questionando regras em trajetória coerente. Essa face transgressora do cantor - visível desde sua entrada avassaladora na cena artística brasileira, em 1973, como vocalista do trio Secos & Molhados - o levou a se identificar com o cancioneiro marginal de Itamar Assumpção (1949 - 2003), compositor paulista jogado na vala dos malditos pelo fato de também ter buscado vias alternativas na música e no mercado fonográfico. Tal identificação - já perceptível nas várias gravações de músicas de Itamar feitas por Ney desde 1988 - facilitou o êxito do show inédito em que Ney canta a obra do Nego Dito na companhia da Isca de Polícia, a banda vanguardista dos anos 80 que sempre esteve ao lado do compositor. Apresentado no teatro do Sesc Vila Mariana, em São Paulo (SP), o show resultou coerente com as vidas e obras de Ney. À beira dos 70 anos, a serem completados em 1º de agosto de 2011, o cantor continua em espantosa boa forma vocal. E foi com essa voz única e resistente - que somente demonstrou sinais de cansação em Grude (Itamar Assumpção) a música menos inspirada do roteiro - e com sua exata compreensão da obra de Itamar que Ney realçou e valorizou a contundência do cancioneiro do compositor. O cantor já entrou em cena - no sexto número, Chavão Abre Porta Grande (Itamar Assumpção e Ricardo Guará) - totalmente à vontade, em perfeita interação gestual e vocal com Suzana Salles e Vange Milliet, as cantoras da Isca de Polícia. Mas foi na sequência de sua participação - quando Ney mostrou arrassadoras interpretações de Devia Ser Proibido (Itamar Assumpção e Alice Ruiz) e Finalmente (Itamar Assumpção e Alzira Espíndola) - que o show atingiu picos de expressão. Que seriam novamente alcançados com a explosiva abordagem de Bomba H (Itamar Assumpção e Alzira Espíndola) -  música que o cantor gravou em seu álbum Olhos de Farol (1999) - e com o número final do bis, Fico Louco (Itamar Assumpção), em que o cantor simula loucura no canto e na expressão facial em número performático que culmina com a tirada alucinada de sua camisa. A presença da Isca de Polícia dá outro sentido e pulsação a músicas que o cantor já vinha apresentando em shows recentes, caso de Existem Coisas na Vida (Itamar Assumpção e Alzira Espíndola), incluída por Ney no roteiro de seu show Inclassificáveis (2007). Em fina sintonia com a banda (apesar de ter entrado antes da hora em Canto em Qualquer Canto, gerando a necessidade de o número ser repetido no bis por conta da gravação ao vivo), Ney se mostrou tão pleno e tão inteiro neste tributo a Itamar que a presença charmosa de Alzira Espíndola - convidada afetiva de Ai que Vontade (Itamar Assumpção) e Transpiração (Itamar Assumpção e Alzira Espíndola) - seria até dispensável. Mesmo quando a música soou menos contundente e sedutora, como em Ouça-me (Itamar Assumpção e Alzira Espíndola), a performance de Ney não deixou o show perder pique. Contudo, justiça seja feita, a total interação entre os músicos da banda Isca de Polícia garantiu também a fidelidade ao espírito do cancioneiro de Itamar, com destaques para o trombone de Bocato (alma dos arranjos) e para o solo de guitarra de Jean Trad em Canto em Qualquer Canto (Itamar Assumpção e Ná Ozzetti). Contribuição da vanguarda paulista à música brasileira dos anos 80, o canto falado e levemente dramatizado do gênero foi revivido com propriedade por Ney e as vocalistas da Isca de Polícia em Chavão Abre Porta Grande. Enfim, um show antológico que honrou a memória de Itamar Assumpção e de sua música de rítmica plural - e poesia cheia de atitude e vida. Obra construída à margem das vias viciadas do mercado da música - das quais Ney também sempre procurou se desviar, desde que surgiu.

8 comentários:

  1. Por mais que seja um artista associado ao mainstream da música brasileira, Ney Matogrosso quase sempre transitou também pelas margens, transgredindo e questionando regras em trajetória coerente. Essa face transgressora do cantor - visível desde sua entrada avassaladora na cena artística brasileira, em 1973, como vocalista do trio Secos & Molhados - o levou a se identificar com o cancioneiro marginal de Itamar Assumpção (1949 - 2003), compositor paulista jogado na vala dos malditos pelo fato de também ter buscado vias alternativas na música e no mercado fonográfico. Tal identificação - já perceptível nas várias gravações de músicas de Itamar feitas por Ney desde 1988 - facilitou o êxito do show inédito em que Ney canta a obra do Nego Dito na companhia da Isca de Polícia, a banda vanguardista dos anos 80 que sempre esteve ao lado do compositor. Apresentado no teatro do Sesc Vila Mariana, em São Paulo (SP), o show resultou coerente com as vidas e obras de Ney. À beira dos 70 anos, a serem completados em 1º de agosto de 2011, o cantor continua em espantosa boa forma vocal. E foi com essa voz única e resistente - que somente demonstrou sinais de cansação em Grude (Itamar Assumpção) a música menos inspirada do roteiro - e com sua exata compreensão da obra de Itamar que Ney realçou e valorizou a contundência do cancioneiro do compositor. O cantor já entrou em cena - no sexto número, Chavão Abre Porta Grande (Itamar Assumpção e Ricardo Guará) - totalmente à vontade, em perfeita interação gestual e vocal com Suzana Salles e Vange Milliet, as cantoras da Isca de Polícia. Mas foi na sequência de sua participação - quando Ney mostrou arrassadoras interpretações de Devia Ser Proibido (Itamar Assumpção e Alice Ruiz) e Finalmente (Itamar Assumpção e Alzira Espíndola) - que o show atingiu picos de expressão. Que seriam novamente alcançados com a explosiva abordagem de Bomba H (Itamar Assumpção e Alzira Espíndola) - música que o cantor gravou em seu álbum Olhos de Farol (1999) - e com o número final do bis, Fico Louco (Itamar Assumpção), em que o cantor simula loucura no canto e na expressão facial em número performático que culmina com a tirada alucinada de sua camisa. A presença da Isca de Polícia dá outro sentido e pulsação a músicas que o cantor já vinha apresentando em shows recentes, caso de Existem Coisas na Vida (Itamar Assumpção e Alzira Espíndola), incluída por Ney no roteiro de seu show Inclassificáveis (2007). Em fina sintonia com a banda (apesar de ter entrado antes da hora em Canto em Qualquer Canto, gerando a necessidade de o número ser repetido no bis por conta da gravação ao vivo), Ney se mostrou tão pleno e tão inteiro neste tributo a Itamar que a presença charmosa de Alzira Espíndola - convidada afetiva de Ai que Vontade (Itamar Assumpção) e Transpiração (Itamar Assumpção e Alzira Espíndola) - seria até dispensável. Mesmo quando a música soou menos contundente e sedutora, como em Ouça-me (Itamar Assumpção e Alzira Espíndola), a performance de Ney não deixou o show perder pique. Contudo, justiça seja feita, a total interação entre os músicos da banda Isca de Polícia garantiu também a fidelidade ao espírito do cancioneiro de Itamar, com destaques para o trombone de Bocato (alma dos arranjos) e para o solo de guitarra de Jean Trad em Canto em Qualquer Canto (Itamar Assumpção e Ná Ozzetti). Contribuição da vanguarda paulista à música brasileira dos anos 80, o canto falado e levemente dramatizado do gênero foi revivido com propriedade por Ney e as vocalistas da Isca de Polícia em Chavão Abre Porta Grande. Enfim, um show antológico que honrou a memória de Itamar Assumpção e de sua música de rítmica plural - e poesia cheia de atitude e vida. Obra construída à margem das vias viciantes.

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  2. O Show foi gravado para ser lançado em DVD? Há alguma previsão disso?

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  3. oi, Raphael, acho que, por ora, é para exibição na TV. Mas, uma vez estando gravando, sempre é possível que saia mais tarde em DVD. Abs, MauroF

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  4. Faço coro para lançar um DVD desse show, que foi muito pouco divulgado. Sou de SP e não sabia do show.

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  5. Ney, Cauby e João Gilberto são os três maiores cantores brasileiros do momento.

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  6. Ney e Caetano Veloso sao os dois cantores brasileiros da chamada turma de medalhoes da MPB que fazem o trabalho mais instigante e criativo na cena musical brasileira. Nao so criando trabalhos diferentes, como cantando e explorando as regioes da voz como nenhum outro. Podem ate existir melhores vozes masculinas do que as dos dois, mas artistas mais fascinantes do que eles, que continuaram agitando suas respectivas obras nao se tem registro de outros nomes. Nao se repetem, se misturam com os novos compositores, cantores(as), produtores e mamteem a chama artistica queimando como ninguem. Dois leoes ferozes e super talentosos.

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  7. Mauro , esse show vai ser lançado em DVD ??? Já sabe de alguma coisa ?

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