Título: Clímax
Artista: Marina Lima
Gravadora: Libertà Records / Fullgás / Microservice
Cotação: * * * *
A ausência de Antonio Cícero na ficha técnica do 19º álbum de Marina Lima, Clímax, é sintomática. Urdido sob as sombras e luzes eletrônicas de São Paulo (SP), cidade que abriga a cantora e compositora carioca desde 2010, Clímax é o álbum mais confessional da artista - a ponto de sete de suas onze faixas serem assinadas somente por Marina. Em essência, Clímax traduz as angústias afetivas e existenciais da compositora em músicas que expressam seu contínuo movimento nas esferas artística - e, não por acaso, uma de suas músicas autorais se chama Keep Walkin' - e pessoal. Ainda à meia-voz, mas sem exprimir cansaço no canto que soa mais fluente, Marina se encontra às voltas com as urgências de seu tempo e lugar. Músicas nascidas no Rio de Janeiro - como LEX (My Weird Fish), cujo título aglutina referências ao aeorporto de Lisboa e a tema do Radiohead, explicitadas na letra - ganham a cara cosmopolita de São Paulo, formatadas com programações eletrônicas de Edu Martins, tecladista que assina a produção de Clímax ao lado do baterista Alex Fonseca. Metrópole crescida sob a égide da miscigenação étnica e cultural, Sampa é a musa inspiradora de uma das faixas mais sedutoras do disco, #SPFeelings, na qual, sob paradoxal base que evoca a suavidade da bossa carioca, a cantora expõe o encanto com o frenesi incensante da cidade em letra que cita até Lady Gaga. Qualquer que tenha sido a rota geográfica de sua concepção, o fato é que Clímax é o melhor disco de inéditas de Marina Lima desde Pierrot do Brasil (1998). Havia atitude e algum vigor no anterior Lá nos Primórdios (2006), mas a inédita safra autoral de Clímax soa mais contundente e consistente. A Parte que me Cabe, por exemplo, resulta bela no disco. A balada conta com a voz de Vanessa da Mata. A combinação inusitada das vozes - com prejuízo para a de Vanessa, mas com lucro para a faixa - dá charme todo extra a este tema em que a autora também expressa sua urgência na conquista da parte que lhe cabe na vida. Entre canção bilíngue ambientada em clima acústico (De Todas que Vivi, com violão, piano e trompas sampleadas) e faixa de tom sintético (Doce de Nós, com o d.n.a. melódico da compositora), Clímax apresenta releitura de Call me (Tony Hatch). O sucesso de Chris Montez em 1965 endurece e perde a ternura para se ajustar ao tom conflitante de boa parte das letras. Imersa em suas angústias afetivas, típicas de uma cidade como São Paulo, Marina nega o amor (Não me Venha Mais com o Amor, sua primeira parceria com Adriana Calcanhotto, abre o disco com ode febril ao sexo sem envolvimento romântico) e admite sua desilusão com o sentimento em Desencantados, sedutora parceria da artista com Karina Buhr, Edgard Scandurra e Alex Fonseca - gravada com a voz de Buhr e a guitarra de Scandurra - que, por si só, já valeria o disco. Mas, à medida que Clímax avança, Marina vai cedendo a esse mesmo sentimento (As Ordens do Amor, o menos inspirado dos temas autorais) até se render totalmente ao amor em radiofônica canção pop composta com Samuel Rosa, Pra Sempre, que se ajustaria bem a um disco do Skank e poderia até recolocar Marina nas paradas se entrasse na trilha sonora de alguma novela global. Além de tocar violão e guitarra na faixa, Samuel canta com Marina a letra ensolarada que expõe saldo positivo no balanço existencial. Este possível hit é quase um alien em disco cosmopolita impregnado das angústias e contradições de metrópoles que servem de cenário para incessantes (des)encontros. Aos 55 anos, ainda com muito a dizer, Marina Lima procura se encontrar e chega ao Clímax sem perder a pose, a atitude e a alma.
20 comentários:
A ausência de Antonio Cícero na ficha técnica do 19º álbum de Marina Lima, Clímax, é sintomática. Urdido sob as sombras e luzes eletrônicas de São Paulo (SP), cidade que abriga a cantora e compositora carioca desde 2010, Clímax é o álbum mais confessional da artista - a ponto de sete de suas onze faixas serem assinadas somente por Marina. Em essência, Clímax traduz as angústias afetivas e existenciais da compositora em músicas que expressam seu contínuo movimento nas esferas artística - e, não por acaso, uma de suas músicas autorais se chama Keep Walkin' - e pessoal. Ainda à meia-voz, mas sem exprimir cansaço no canto que soa mais fluente, Marina se encontra às voltas com as urgências de seu tempo e lugar. Músicas nascidas no Rio de Janeiro, como Lex (My Weird Flesh), ganham a cara cosmopolita de São Paulo, formatadas com as programações eletrônicas de Edu Martins, o tecladista que assina a produção de Clímax ao lado do baterista Alex Fonseca. Metrópole crescida sob a égide da miscigenação étnica e cultural, Sampa é a musa inspiradora de uma das faixas mais sedutoras do disco, #SPFeelings, na qual, sob paradoxal base que evoca a suavidade da bossa carioca, a cantora expõe o encanto com o frenesi incensante da cidade em letra que cita até Lady Gaga. Qualquer que tenha sido a rota geográfica de sua concepção, o fato é que Clímax é o melhor disco de inéditas de Marina Lima desde Pierrot do Brasil (1998). Havia atitude e algum vigor no anterior Lá nos Primórdios (2006), mas a inédita safra autoral de Clímax soa mais contundente e consistente. A Parte que me Cabe, por exemplo, resulta bela no disco. A balada conta com a voz de Vanessa da Mata. A combinação inusitada das vozes - com prejuízo para a de Vanessa, mas com lucro para a faixa - dá charme todo extra a este tema em que a autora também expressa sua urgência na conquista da parte que lhe cabe na vida. Entre canção bilíngue ambientada em clima acústico (De Todas que Vivi, com violão, piano e trompas sampleadas) e faixa de tom sintético (Doce de Nós, com o d.n.a. melódico da compositora), Clímax apresenta releitura de Call me (Tony Hatch). O sucesso de Chris Montez em 1965 endurece e perde a ternura para se ajustar ao tom conflitante de boa parte das letras. Imersa em suas angústias afetivas, típicas de uma cidade como São Paulo, Marina nega o amor (Não me Venha Mais com o Amor, sua primeira parceria com Adriana Calcanhotto, abre o disco com ode febril ao sexo sem envolvimento romântico) e admite sua desilusão com o sentimento em Desencantados, sedutora parceria da artista com Karina Buhr, Edgard Scandurra e Alex Fonseca - gravada com a voz de Buhr e a guitarra de Scandurra - que, por si só, já valeria o disco. Mas, à medida que Clímax avança, Marina vai cedendo a esse mesmo sentimento (As Ordens do Amor, o menos inspirado dos temas autorais) até se render totalmente ao amor em radiofônica canção pop composta com Samuel Rosa, Pra Sempre, que se ajustaria bem a um disco do Skank e poderia até recolocar Marina nas paradas se entrasse na trilha sonora de alguma novela global. Além de tocar violão e guitarra na faixa, Samuel canta com Marina a letra ensolarada que expõe saldo positivo no balanço existencial. Este possível hit é quase um alien em disco cosmopolita impregnado das angústias e contradições de metrópoles que servem de cenário para incessantes (des)encontros. Aos 55 anos, ainda com muito a dizer, Marina Lima procura se encontrar e chega ao Clímax sem perder a pose, a atitude e a alma.
Acabei de ler tua resenha na Rolling Stone.
Além de sampa, eu ia comentar que senti algo meio Minas Gerais no disco que não tem apenas Samuel Rosa, mas que fala de Minas numa das faixas... Enfim... Marina Lima sempre cosmopolita e falando a nós segundo o idioma do amor do seu tempo. Tarimbada, sensual e misteriosa, ainda que soe desiludida, e quem não está?
- Vejam só essa nova onda de fossa nova (as mesmas que cantarão Marina Lima) de Karina Buhr, Andréia Dias, Bárbara Eugênia, Cibelle, Juliana R., e até Nina Becker. São discos mais urgentes e existenciais do que aquela festa contagiante das micaretas que o brasileiro mediano está acostumado. Por isso mesmo, muito mais interessantes.
Salve, salve quem vem ai!
Essa capa é excelente! A Marina parece ter um orgasmo com a guitarra nas mãos, chegando ao clímax... Gostei bastante! =)
Pronto. Agora tô curioso pra conhecer o conteúdo deste CD.
Gostei muito do cd, apesar de em algumas músicas ter a sensação de deja vu. A cançao #SPFeelings me lembrou a "Pra Ver Meu Bem Corar" do cd Pierrot do Brasil. "Nao me venha mais com amor" me lembrou alguma coisa do cd Lá nos Primórdios
Marina pode até perder toda a voz, mas vai ter sempre o que dizer.
Isso que eu ia dizer: pela resenha, parece que "Clímax" ficou bem parecido com "Pierrot do Brasil": aquela coisa climática, garoenta, fria, tensa...
Bom dizer que esses adjetivos não significam que eu ache que o disco novo deva ser ruim. Longe disso. "Pierrot..." é um discaço. A faixa-título é muito boa.
Só me vem uma certeza à cabeça; agora que Marina está sediada em SP, com certeza eu cravaria que o saudoso Suba ia ter produzido "Clímax", se vivo estivesse.
Felipe dos Santos Souza
Ótima resenha! Só um detalhe: a menção em LEX (em maiúsculas pois refere-se à sigla de aeroporto para Lisboa) é "my weird fish", em referência à música Weid Fishes do Radiohead, inclusive a letra faz referências a essa canção do álbum In Rainbows.
Marina Lima esteve no 3º Grêmio Recreativo MTV, ao lado de Arnaldo Antunes, Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci, Pepeu Gomes, Ortinho, Curumin... bem bacana esse programa comandado pelo Arnaldo!
Este álbum com certeza figurará entre os clássicos de Marina Lima! Arrasa, "gata garota"!
Marina quando surgiu pegou a todos de surpresa, uma impressão musical forte que nunca deixou de acontecer em toda sua discografia.Clímax confirma isso. A musica pop brasileira deve muito a ela, para todo o sempre.
Alexandre, valeu pelo alerta do erro de digitação da faixa LEX. Já consertei e inseri as referências no texto. Abs, obrigado, MauroF
Disco magnífico! Nos arranjos dissonantes, nas letras muito bem construídas. Dois discos fundamentais em 2011: Toque dela do Camelo e Climax da Marina.
Lá vem ela, toda cheia de si, porque ainda pode muito. Amo Marina e sua atitude musical é maior que qualquer voz.
Eu não gostei desse cd...Marina Lima com Vanessa da Mata ficou super distoante...sem falar que ainda não desceu a Marina citando Lady GaGa na sua música.
Marina, mesmo à meia voz, sente cada nota e cada verso intensamente, esse é o seu grande diferencial. Tudo nela é impecável e honesto, não há nada gratuito em sua música.
Concordo com você, Mauro, menos na parte onde diz que este é o melhor desde o Pierrot, que para mim continua sendo o Setembro, ótimo disco e esquecido.
O
cOMeNTÁRiO
Foi
BeLo...
o
CD
TÁ
LiNdO
e
O
A M o R
FLuiNdO...
O
COMeNTÁRio
Foi
BeLo...
o
CD
eSTÁ
LiNdOOo...
e
O
A M o R
FLuiNdO...
lindo!
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