sexta-feira, 15 de abril de 2011

Pop sem culpa reconecta Kid ao público do grupo em 'Glitter de principiante'

Resenha de Show
Título: Glitter de Principiante
Artista: Kid Abelha (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Guaíra (Curitiba, PR)
Data: 14 de abril de 2011
Cotação: * * * *

 Antes de cantar Dizer não é dizer sim na estreia nacional do show Glitter de principiante, Paula Toller revelou ao público presente no Teatro Guaíra (PR) que compôs a música (gravada em 1989) como uma resposta ao analista da artista, já que o psicólogo identificara uma persistente negação nas letras escritas pela cantora e compositora carioca. Certa ou errada, a análise precisaria ter levado em conta que o Kid Abelha faz pop sem culpa, sem negação do prazer de criar um refrão a que ninguém resiste. E refrões irresistíveis foram ouvidos em quase todos os 22 números do roteiro do show que marca oficialmente a volta do trio carioca à cena, após recesso de quatro anos. "Não importa se (o show) é em ginásio, se é em teatro, a gente canta junto. O importante é a nossa intimidade", sentenciou a Abelha rainha diante do público majoritariamente quarentão que lotou o imponente Guaíra, na noite de 14 de abril de 2011, para cantar junto com o Kid Abelha pérolas pop do quilate de Como eu quero, Alice (Não me escreva aquela carta de amor) e Pintura íntima, os três alocados em consagrador bis que sedimentou a conexão do grupo com o público neste retorno. O show Glitter de principiante passa em revista obra pop por excelência. À frente de belo cenário urdido com painéis de led que projetam imagens novas e antigas, com a eventual a sensação de exibir tais imagens em 3D, o grupo desfila sucessos sem encucações com conceitos. A fidelidade aos arranjos das gravações originais é perceptível na maior parte das músicas, nas quais quase sempre cabem solos do sax sonoro de George Israel. As inovações são sutis, com exceção de Garotos, remodelada com clima, pulsação, suingue e citação de Louras geladas - o primeiro sucesso do grupo RPM - que inexistiam na gravação de 1985. E o fato é que poucas bandas de rock brasileiro têm repertório suficiente para desfiar um rosário de hits ao longo de quase duas horas de show. O Kid Abelha tem. E tem também uma vocalista que se conserva gata aos 48 anos, dominando a cena com charme e armando um jogo de sedução com o público que lhe permite cantar com naturalidade letras que versam,  em boa parte, sobre o universo afetivo adolescente - casos, sobretudo, das infalíveis Educação sentimental II e Fixação. George Israel se faz notar nos solos de sax e nos vocais que encorpam os refrões de temas como No seu lugar e No meio da rua. Presença discreta (mas segura) em cena, o guitarrista Bruno Fortunato tem grande momento no roteiro de Glitter de principiante ao fazer sedutor solo ao fim da balada Amanhã é 23, primeiro sucesso do Kid Abelha após a traumática saída de Leoni. Em Amanhã é 23 faz-se notar também a marcação precisa da bateria de Adal Fonseca, integrante do quarteto que dá suporte ao Kid atrás dos telões, que sobem somente a partir de Lágrimas e chuva. O toque da bateria de Adal sobressai ainda em Seu espião, outro hit de um roteiro que somente desacelera o pique do show quando apresenta as inéditas Glitter de principiante (menos sedutora na estreia nacional da turnê do que no registro de estúdio ouvido no site oficial do trio) e Veio do tempo, canção aparentemente sem grandes atrativos para disputar a atenção do público com uma balada certeira como Grand' hotel, ovacionada após ter sido lembrada com direito à exibição de clipe nos painéis de led. Entre o já habitual cover de Na rua na chuva na fazenda (Hyldon) e Peito aberto (pop perfeito de um álbum do trio, Pega vida, que merecia ter obtido maior repercussão), o Kid Abelha invade a praia do reggae no balanço de Eu só penso em você sem se desviar da trilha pop que pavimentou a história do grupo na música brasileira. "Uma história em que o nosso mundo gira em torno de vocês", gracejou Paula Toller - jovem senhora da cena neste show que evidencia a evolução da vocalista na arte de cantar - para os fãs que se levantaram para dançar ao som de Eu tive um sonho. Indicado para quem se nega a analisar letras e músicas com papo cabeça, o show Glitter de principiante prova que o Kid Abelha continua irresistivelmente pop, coerente, sem culpa de fazer o público feliz.

13 comentários:

  1. Antes de cantar Dizer Não É Dizer Sim na estreia nacional do show Glitter de Principiante, Paula Toller revelou ao público presente no Teatro Guaíra (PR) que compôs a música (gravada em 1989) como uma resposta ao seu analista, que identificara uma persistente negação nas letras escritas pela artista. Certa ou errada, a análise precisaria ter levado em conta que o Kid Abelha faz pop sem culpa, sem negação do prazer de criar um refrão a que ninguém resiste. E refrões irresistíveis foram ouvidos em quase todos os 22 números do roteiro do show que marca oficialmente a volta do trio carioca à cena, após recesso de quatro anos. "Não importa se (o show) é em ginásio, se é em teatro, a gente canta junto. O importante é a nossa intimidade", sentenciou a Abelha Rainha diante do público majoritariamente quarentão que lotou o imponente Guaíra, na noite de 14 de abril de 2011, para cantar junto com o Kid Abelha hits do quilate de Como Eu Quero, Alice (Não me Escreva Aquela Carta de Amor) e Pintura Íntima, os três alocados em consagrador bis que sedimentou a conexão do grupo com seu público neste retorno. O show Glitter de Principiante passa em revista obra pop por excelência. À frente de belo cenário urdido com painéis de led que projetam imagens novas e antigas, com a eventual a sensação de exibir tais imagens em 3D, o grupo desfila seus sucessos sem encucações com conceitos. A fidelidade aos arranjos das gravações originais é perceptível na maior parte das músicas, nas quais quase sempre cabem solos do sax sonoro de George Israel. As inovações são sutis, com exceção de Garotos, remodelada com clima, pulsação, suingue e citação de Louras Geladas - o primeiro sucesso do grupo RPM - que inexistiam na gravação de 1985. E o fato é que poucas bandas de rock brasileiro têm repertório suficiente para desfiar um rosário de hits ao longo de quase duas horas de show. O Kid Abelha tem. E tem também uma vocalista que se conserva gata aos 48 anos, dominando a cena com charme e armando um jogo de sedução com o público que lhe permite cantar com naturalidade letras que versam, em boa parte, sobre o universo afetivo adolescente - casos, sobretudo, das infalíveis Educação Sentimental II e Fixação. George Israel se faz notar nos solos de sax e nos vocais que encorpam os refrões de temas como No Seu Lugar e No Meio da Rua. Presença discreta (mas segura) em cena, o guitarrista Bruno Fortunato tem seu grande momento no roteiro de Glitter de Principiante com seu sedutor solo ao fim da balada Amanhã É 23, primeiro sucesso do Kid Abelha após a traumática saída de Leoni. Em Amanhã É 23 faz-se notar também a marcação precisa da bateria de Adal Fonseca, integrante do quarteto que dá suporte ao Kid atrás dos telões, que sobem somente a partir de Lágrimas e Chuva. O toque da bateria de Adal sobressai ainda em Seu Espião, outro hit de um roteiro que somente desacelera o pique do show quando apresenta as inéditas Glitter de Principiante (menos sedutora na estreia nacional da turnê do que no registro de estúdio ouvido no site oficial do trio) e Veio do Tempo, canção aparentemente sem grandes atrativos para disputar a atenção do público com uma balada certeira como Grand' Hotel, ovacionada após ter sido lembrada com direito à exibição de seu clipe nos painéis de led. Entre o já habitual cover de Na Rua na Chuva na Fazenda (Hyldon) e Peito Aberto (pop perfeito de um álbum do trio, Pega Vida, que merecia ter obtido maior repercussão), o Kid Abelha invade a praia do reggae no balanço de Eu Só Penso em Você. sem se desviar da trilha pop que pavimentou sua história na música brasileira. "Uma história em que o nosso mundo gira em torno de vocês", gracejou Paula Toller - jovem senhora da cena neste show que evidencia sua evolução na arte de cantar - para os fãs que se levantaram para dançar ao som de Eu Tive um Sonho. Indicado para quem se nega a viver analisando letras e músicas com papo cabeça, o show Glitter de Principiante mostra que o Kid Abelha continua irresistivelmente pop, sem culpa de fazer seu público feliz.

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  2. Aviso aos navegantes: na pressa de ir para o aeroporto, o blogueiro esqueceu de levar o cabo para passar as fotos da máquina para o laptop. Ou seja, as fotos do show somente serão postadas no meio da tarde de sexta-feira, já no Rio de Janeiro. Abs, MauroF

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  3. Achei o repertório muito parecido com o do Acústico. Imperdoável Todo Meu Ouro - a mais esperada das velhas novidades - ter sido tirada do set list, visto que eles vinham tocando nos shows da pré-temporada. Nada Tanto Assim, outro clássico esquecido, poderia facilmente ter entrado, pra alegria de todos que esperavam músicas fora do cd acústico. Pelo menos Garotos e dizer Não é Dizer Sim retornaram, para nossa alegria. No Meio da Rua também foi um ótimo retorno, mas cadê o total de 08 músicas que não haviam entrado no acústico?

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  4. "vocalista que se conserva gata aos 48 anos" Há, impossível não concordar!
    .
    Pega Vida foi o albúm que fez eu me tornar fã do Kid, adoro, nem sabia da pouca repercussão, aqui em casa fez o maior sucesso, ainda escuto exaustivamente, sem me cansar! rss
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    Ouvi "Glitter de Principiante" no site mas não gostei muito, não...
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    Espero que tragam o show logo à Brasília! o/

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  5. As 2 canções que eu mais gosto deles não são da fase Leoni, mas do álbum que se seguiu a sua saída, "Tomate". São elas a bela "Amanhã É 23" e a empolgante (apesar do tema triste da letra) "No Meio da Rua".

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  6. As letras do Kid (especificamente de Paula) não precisam ser cabeça. Nada contra letras cabeça, que adoro. Mas Paula tem frases simples que vão direto na ferida de qualquer um.

    Adoro o Kid, adoro Paula, que pouca gente já parou para analisar, mas é a cantora brasileira de maior sucesso surgida nos anos 80 (Elba, Marina, Zizi, RoRo, etc, todas, gravaram seus primeiros discos nos anos 70 e Marisa MOnte não contabiliza o número de grandes hits de Paula), e, que com todas as críticas à voz (ou possível falta de) se mantêm no cenário da MPB fazendo sucesso e seduzindo.

    Salve Paulinha Toller

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  7. Não sei se Marisa Monte é fã de Paula Toller & Cia, mas não vejo a tribalista como uma cantora pop e/ou focada em paradas de sucesso. Além disso, Marisa só lançou seu primeiro album uns 5 ou 6 anos depois do Kid Abelha ...

    E quanto ao sucesso,vale lembrar que Kid Abelha passou bons anos desse quase 30 sem emplacar hits e/ou fazendo sucesso.


    Nada contra o grupo.Meu album preferido é o "Autolove" de 1998.

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  8. Uma curiosidade entre Paula Toller e Marisa Monte é o poema de Olavo Bilac " Ora (Direis) Ouvir Estrelas ".

    Paula compôs OUVIR ESTRELA

    " Direi ouvir estrelas
    Certo perdestes o senso
    E eu vos direi, no entanto
    Que, para ouvi- lás
    Muita vez desperto
    E abro as janelas,
    Pálido de espanto
    Enquanto conversamos
    Cintila via láctea
    Como um pálido aberto
    E ao vir do sol,
    Saudoso e em pranto
    Inda as procuro pelo céu deserto
    Que conversas com elas
    O que te dizem
    Quando estão contigo
    Ah... Amai para entendê-las
    Ah... Pois só que ama pode ouvir estrelas "


    Marisa compôs e Juliana Diniz gravou EU SONHEI COM VOCÊ

    " Eu sonhei com você
    e acordei sem querer
    e queria continuar
    e foi tão bom imaginar
    você também a me sonhar
    um sonho tão real assim não pode ter afinal nascido só pra mim
    ora direis, ouvir estrelas
    perdeste o senso meu bem ou tudo foi brincadeira me deixe saber o que os anjos sentem por lá
    mais fale bem perto e baixinho
    pra não acordar
    um sonho tão feliz assim, não deveria ter mais fim
    eu quero voltar a escutar dos seus lábios galaxias
    dizendo que sim

    Eu sonhei com você
    e acordei sem querer
    e queria continuar e foi tão bom imaginar
    você também a me sonhar
    um sonho tão real assim não pode ter afinal
    nascido só pra mim "

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  9. Nossa Como Adoro o Kid. Nunca sai do meu mp3. É uma banda que não enjoo, a cada dia um sucesso novo.

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  10. A cobertura desse blog é realmente incrível. Parabéns, Mauro, pelo trabalho de excelência e por nos proporcionar toda essa informação.

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  11. Diga-se de passagem, Paula fará 49 anos anos em agosto e continua a musa do movimento Brock, com a voz mais aprimorada. Adoro!

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