sábado, 30 de novembro de 2013

Pegada firme de Liminha impede tributo aos Beatles de ser mero karaokê

Resenha de show 
Evento: Banco do Brasil covers
Título: Dado Villa-Lobos, João Barone, Leoni e Toni Platão interpretam Beatles
Artistas: Dado Villa-Lobos, João Barone, Leoni e Toni Platão
Convidados: André Frateschi, Marjorie Estiano, Paulo Miklos e Sandra de Sá
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 29 de novembro de 2013
Foto: Rodrigo Amaral
Cotação: * * * 1/2

Como todos os garotos nascidos na primeira metade dos anos 60, o belga Dado Villa-Lobos, o brasiliense Dado Villa-Lobos e os cariocas Leoni e Toni Platão amaram os grupos britânicos The Beatles e Rolling Stones - pedras fundamentais na construção de um universo pop em que o rock passou a ditar as cartas e os costumes - sem imaginar que, em um dia qualquer dos anos 80, eles mesmos se transformariam em nomes importantes na sedimentação da geração 80 do rock brasileiro. Primeiro show do projeto Banco do Brasil covers a passar pelo Rio de Janeiro (RJ), no fim da turnê nacional iniciada por Natal (RN) em setembro de 2013, Dado Villa-Lobos, João Barone, Leoni e Toni Platão interpretam The Beatles corria sério risco de virar um karaokê porque todas as músicas dos Beatles já ganharam registros definitivos feitos pelos próprios Fab Four ao longo da década de 60. Só que a diretora Monique Gardenberg acertou ao entregar a direção musical do show ao produtor Liminha, pedra fundamental na construção do sucesso do pop brasileiro dos anos 80. A pegada firme de Liminha - perceptível desde Get back (John Lennon e Paul McCartney, 1969), o primeiro dos 26 números do roteiro que embaralha músicas de todas as fases do quarteto - valoriza o show. Até porque, dos três cantores (Dado Villa-Lobos, Leoni e Toni Platão) que se revezam na interpretação dessas músicas, somente o terceiro tem voz imponente como intérprete. Talento que Platão reiterou ao solar músicas como All my loving (John Lennon e Paul McCartney, 1963) e Eight days a week (John Lennon e Paul McCartney, 1964). Leoni domina bem o idioma pop, mas não brilha no show na medida de seu talento. Já Dado soa mais desenvolto no toque de sua guitarra. Em tese um dos quatro protagonistas do show, João Barone teria ficado somente atrás de sua (extraordinária) bateria se o roteiro não previsse que o músico soltasse sua voz em Octopus garden (Ringo Starr, 1969) em homenagem ao "Beatle mais importante", como Barone se referiu com humor irônico ao baterista Ringo Starr, autor da música gravada pelo fantástico quarteto no álbum Abbey road (1969). Liminha foi sábio ao convocar dois músicos especialistas em Beatles - Emerson Ribeiro (no violão e nos vocais) e Gustavo Camardella (na guitarra e nos vocais) - para sustentar a aventura da turma pelo cancioneiro. À banda, também se juntou a tecladista Cris Caffarelli, responsável pelos samples, pianos e orquestrações. Com esse afiado trio de apoio, os roqueiros brasileiros fizeram show enérgico, caloroso, valorizado pelo roteiro - que tributou o guitarrista George Harrison (1943 - 2001) no medley que agregou I need you (George Harrison, 1965) e Taxman (George Harrison, 1966) com citação de riff de Here comes the sun (George Harrison, 1969) - e pela presença de convidados muito bem escolhidos pela diretora Monique Gardenberg. Embora seja mais conhecida como atriz de novelas da TV Globo, a paranaense Marjorie Estiano é cantora segura que deu injeção de energia no show assim que entrou em cena para cantar Come together (John Lennon e Paul McCartney, 1969). Também ator e cantor, o paulista André Frateschi também segurou a atenção do público em seu set com carismática abordagem de Oh! darling (John Lennon e Paul McCartney, 1969), usando seu talento dramático para teatralizar, em tom visceral, I am the walrus (John Lennon e Paul McCartney, 1967). Por vezes incrementada com uso de vídeos projetados em tela alocada ao fundo do palco, a cena ganhou tonalidades psicodélicas - com direito a projeções do gênero no telão que desceu e encobriu o palco - no medley que uniu Sgt. Pepper's lonely hearts club band (John Lennon e Paul McCartney, 1967), With a little help of my friends (John Lennon e Paul McCartney, 1967), Lucy in the sky with diamonds (John Lennon e Paul McCartney, 1967) e Strawberry fields forever (John Lennon e Paul McCartney, 1967). Já o titã Paulo Miklos deu colorido punk e peso aos rocks I'm down (John Lennon e Paul McCartney, 1965) e Helter skelter (John Lennon e Paul McCartney, 1968). Endiabrado, Miklos cantou, pulou e deitou no palco, em sintonia com o espírito indomado do rock. Por fim, Sandra de Sá reiterou o calor de sua voz quando entrou em cena para entoar a canção-chiclete Hey Jude (John Lennon e Paul McCartney, 1968) em abordagem vibrante à qual se seguiram quatro números coletivos que expuseram a alegria de anfitriões e convidados na imersão em um cancioneiro emblemático e atemporal do qual todos deixaram a impressão no bom show de serem fervorosos admiradores.

Convidados eletrizam show em que roqueiros dos 80 interpretam Beatles

O show não era deles, mas os quatro convidados realmente especiais do espetáculo Dado Villa-Lobos, João Barone, Leoni e Toni Platão interpretam The Beatles - dirigido por Monique Gardenberg para a série Banco do Brasil Covers - deram shows à parte, energizando a (boa) apresentação que lotou a casa Vivo Rio na noite de 29 de novembro de 2013. Eles são André Frateschi, Marjorie Estiano, Paulo Miklos e Sandra de Sá - vistos em cena, com ou sem os anfitriões, no mosaico com fotos de Rodrigo Amaral. Após passar por Natal (RN), Recife (PE), Fortaleza (CE) e Porto Alegre (RS), a turnê do show chegou ao fim no Rio de Janeiro (RJ). Sob a direção musical de Liminha, que também piloto o baixo, os quatro roqueiros brasileiros da geração 80 prestaram suas honras aos Fab Four e receberam os convidados. Atriz e cantora, Marjorie Estiano foi a primeira convidada a entrar em cena, dando voz a Come together (John Lennon e Paul McCartney, 1969) e a She came in through the bathroom window (John Lennon e Paul McCartney, 1969) antes de dividir com o também ator e cantor André Frateschi a interpretação do medley que une Golden slumbers (John Lennon e Paul McCartney, 1969) e Carry the weight (John Lennon e Paul McCartney, 1969). Na sequência, Frateschi solou Oh! darling (John Lennon e Paul McCartney, 1969) - encerrando o set de música do álbum Abbey road (1969) - e I am the walrus (John Lennon e Paul McCartney, 1967). Sete números mais tarde, foi a vez de um elétrico Paulo Miklos entrar em cena para realçar o peso dos rocks I'm down (John Lennon e Paul McCartney, 1965) e Helter skelter (John Lennon e Paul McCartney, 1968). Por fim, Sandra de Sá aqueceu a balada Hey Jude (John Lennon e Paul McCartney, 1968) com o calor de sua voz, permanecendo em cena para puxar o número coletivo que fechou o show com Twist and shout (Phil Medley e Bert Russell Berns, 1961), música gravada pelos Beatles em 1963. No bis, convidados e anfitriões reviveram We can work it out (John Lennon e Paul McCartney, 1965) e I saw her standing there (John Lennon e Paul McCartney, 1963) antes de saírem de cena ao som de Stand by me (Ben E. King, Jerry Leiber e Mike Stoller, 1960), a canção fraterna que John Lennon (1940 - 1980) regravou em 1975. Eis todo o roteiro seguido por anfitriões e convidados na passagem do show Dado Villa-Lobos, João Barone, Leoni e Toni Platão interpretam The Beatles pela cidade do Rio de Janeiro (RJ):

1. Get back (John Lennon e Paul McCartney, 1969)
2. Drive my car (John Lennon e Paul McCartney, 1965)
3. I need you (George Harrison, 1965) /
    Taxman (George Harrison, 1966)
    - com citação de Here comes the sun (George Harrison, 1969)
4. All my loving (John Lennon e Paul McCartney, 1963)
5. Can't buy me love (John Lennon e Paul McCartney, 1964)
6. Eight days a week (John Lennon e Paul McCartney, 1964)
7. Lady Madonna (John Lennon e Paul McCartney, 1968)
8. Come together (John Lennon e Paul McCartney, 1969)
9. She came in through the bathroom window (John Lennon e Paul McCartney, 1969) /
    Golden slumbers (John Lennon e Paul McCartney, 1969) /
    Carry the weight (John Lennon e Paul McCartney, 1969)
10. Oh! darling (John Lennon e Paul McCartney, 1969)
11. I am the walrus (John Lennon e Paul McCartney, 1967)
12. Something (George Harrison, 1969)
      - com citação de Stairway to heaven (Jimmy Page e Robert Plant, 1970)

13. Ticket to ride (John Lennon e Paul McCartney, 1965)
      - com citação de My generation (Pete Townshend, 1965)
14. Back in the USSR (John Lennon e Paul McCartney, 1968)
15. Dear Prudence (John Lennon e Paul McCartney, 1968)
16. Sgt. Pepper's lonely hearts club band (John Lennon e Paul McCartney, 1967) /
      With a little help of my friends (John Lennon e Paul McCartney, 1967) /
      Lucy in the sky with diamonds (John Lennon e Paul McCartney, 1967) /
      Strawberry fields forever (John Lennon e Paul McCartney, 1967)

17. Octopus garden (Ringo Starr, 1969)
18. I'm down (John Lennon e Paul McCartney, 1965)
19. Helter skelter (John Lennon e Paul McCartney, 1968)
20. Magical mistery tour (John Lennon e Paul McCartney, 1967)
21. Help (John Lennon e Paul McCartney, 1965)
22. Hey Jude (John Lennon e Paul McCartney, 1968)
23. Twist and shout (Phil Medley e Bert Russell Berns, 1961) - gravada pelos Beatles em 1963
Bis:
24. We can work it out (John Lennon e Paul McCartney, 1965)
25. I saw her standing there (John Lennon e Paul McCartney, 1963)
Bis 2:
26. Stand by me (Ben E. King, Jerry Leiber e Mike Stoller, 1960) - gravada por John Lennon em 1975

DJ Dolores repisa trilhas criadas para filmes na coletânea 'Banda sonora'

Na década de 90, o sergipano DJ Dolores ainda nem pensava em se tornar músico profissional quando foi convidado pelo então debutante cineasta Kleber Mendonça para produzir temas para a trilha sonora de seu primeiro filme em média-metragem Enjaulado, lançado em 1998. Decorridos 15 anos, Dolores já é nome forte e reconhecido na cena de Pernambuco e do Brasil, continuando a compor trilhas sonoras para filmes. Lançada em edição do selo pernambucano Assustado Discos, a coletânea Banda sonora repisa trilhas criadas por Dolores nesses 15 anos em trajetória que entrelaçou música e cinema e  que atingiu ponto culminante neste ano de 2013 com a conquista de um Kikito no Festival de Gramado pela trilha sonora do cultuado filme Tatuagem (2013), do cineasta Hilton Lacerda. Disponibilizada esta semana pelo artista para download gratuito e legalizado no site oficial de Dolores, a compilação está sendo editada também no formato de LP, lançado oficialmente neste sábado, 30 de novembro de 2013, na nona edição da Feira de Vinil promovida pela loja Passa Disco, do Recife (PE). Banda sonora coleta temas como Setúbal (feito para Enjaulado, mas reutilizado por Kleber Mendonça em seu elogiado filme O som ao redor), Subúrbio soul (do longa-metragem O rap do Pequeno Príncipe contra as almas sebosas, dos diretores Marcelo Luna e Paulo Caldas), Azougue (tema da trilha sonora da versão cinematográfica da peça A máquina, de João Falcão) e a Polka do cu (do celebrado Tatuagem), entre outros temas. A coletânea não é editada em CD.

Importante homem do disco, João Araújo sai de cena aos 78 anos no Rio

Ao ser homenageado na festa dos 40 anos da gravadora Som Livre, em novembro de 2009, o executivo João Araújo (2 de julho 1935 - 30 de novembro 2013) teve reconhecida toda a relevante contribuição que deu não somente para a empresa que viu nascer, em 1969, mas também para toda a indústria brasileira do disco. Sua saída de cena no Rio de Janeiro (RJ) - vítima de parada cardíaca na manhã deste sábado em que seu filho Cazuza (1958 - 1990) vai ressurgir na forma de holograma em espetáculo agendado para a noite de hoje, em São Paulo (SP) - entristece todo o mercado fonográfico nacional. Embora tenha ficado mais conhecido após os anos 80 como o pai de Cazuza, João Araújo foi um dos mais importantes homens da história do disco no Brasil. Sua gestão na diretoria da gravadora Som Livre - ao longo de 38 de seus 78 anos de vida - seria por si só suficiente para colocar o nome de Araújo em lugar nobre nessa história. Só que, antes de entrar na Som Livre em 1969, ano em que foi criada essa gravadora associada às Organizações Globo, Araújo já havia passado por várias companhias fonográficas em carreira iniciada na nacional Copacabana Discos. Numa delas, a Philips, apostou na contratação de Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil pela gravadora na qual os cantores baianos consolidaram suas carreiras. Entusiasta da MPB nascida na era dos festivais em 1965, Araújo ajudou Djavan em seu sofrido início de carreira no Rio de Janeiro (RJ) - criando oportunidade para que o artista alagoano gravasse músicas para trilhas sonoras de novelas da TV Globo e para que fizesse, em 1976, seu primeiro álbum - e contratou artistas como Rita Lee. Foi na Som Livre - gravadora na qual a Ovelha Negra ingressou em 1975 - que Rita viveu sua explosão pop a partir do estouro nacional de Mania de você (Rita Lee e Roberto de Carvalho) em 1979. Na década de 80, Araújo avalizou a contratação da apresentadora de TV Xuxa Meneghel, cujos discos infantis da série Xou da Xuxa logo bateram recordes de vendagem. De início refratário ao som do Barão Vermelho, o grupo que projetou seu filho Cazuza em escala nacional, Araújo acabou sendo convencido a contratar a banda pelo produtor Ezequiel Neves (1935 - 2010), ajudando também a escrever página importante da história do rock brasileiro. Ao ser empossado presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), em fevereiro de 2005, João Araújo foi reconhecido - mais uma vez - como nome crucial na engrenagem da máquina fonográfica do Brasil. Ele foi mais do que o pai de Cazuza.

Takai vai gravar e lançar em 2014 seu quarto disco sem o grupo Pato Fu

A cantora e compositora amapaense Fernanda Takai - radicada em Belo Horizonte (MG) - vai gravar e lançar em 2014 o quarto título da discografia que desenvolve paralelamente ao seu trabalho como integrante do grupo mineiro Pato Fu. Takai - em foto de Bruno Senna - obteve patrocínio do projeto Natura Musical para viabilizar a gravação do sucessor de Fundamental (2012), o álbum de inéditas feito e assinado pela artista com o compositor e guitarrista inglês Andy Summers, mais conhecido por sua atividade no ora desativado grupo britânico The Police.

Chitãozinho & Xororó sintonizam novos tempos sertanejos em CD e DVD

Resenha de CD e DVD
Título: Do tamanho do nosso amor ao vivo
Artista: Chitãozinho & Xororó
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2

É estratégica a imagem da capa do CD e DVD Do tamanho do nosso amor ao vivo, lançados por Chitãozinho & Xororó, via Universal Music, neste último trimestre de 2013. Na foto da capa, uma fã vê vídeo da dupla sertaneja pelo celular. A imagem é estratégica justamente porque a gravação ao vivo -  feita pelos irmãos paranaenses em 22 de agosto de 2012, no Wood's bar, em São Paulo (SP) - tem o objetivo de sintonizar Chitãozinho & Xororó com os novos tempos sertanejos. A produção de Fernando Sor - metade da dupla sertaneja (também de origem paranaense) Fernando & Sorocaba - cumpre a função de inserir os colegas veteranos neste mundo pop sertanejo de ralos resquícios caipiras. A bem da verdade, Chitãozinho & Xororó já puseram a viola no fundo do baú ainda nos anos 70, década em que, seguindo o rastro da dupla goiana Léo Canhoto & Robertinho (pioneira na eletrificação do som sertanejo), os irmãos iniciaram processo de urbanização de sua música que alcançou ponto culminante entre o fim dos anos 80 e o início dos 90. Contudo, o tempo não para, fazendo com que Chitãozinho & Xororó acabassem soando ultrapassados nos anos 2000, embora sempre respeitados como ícones da história da música sertaneja. Com naturalidade, o CD e DVD Do tamanho do nosso amor ao vivo reconectam Chitãozinho & Xororó ao atual universo sertanejo. Além de ter produzido a gravação ao vivo, Fernando Zor criou - com Gabriel Junior - arranjos de pegada pop contemporânea que enquadram na moldura inclusive os sucessos anteriores da dupla, como Somos assim (Paulinho Rezende e Paulo Debétio, 1989) e o mega-hit Evidências (José Augusto e Paulo Sérgio Valle, 1990), canção ouvida também no fim do disco somente com o coro do público, em faixa escondida após dispensável abordagem de Tente outra vez (Raul Seixas, Marcelo Motta e Paulo Coelho, 1975). Além da pegada, houve também uma atualização da temática do repertório da dupla. Essa mudança é perceptível sobretudo em E aí, tempo? (Caco Nogueira), primeiro single do projeto, lançado em março deste ano de 2013. Vocacionada para as paradas populares, E aí, tempo? se alinha com a pegada pop e a temática mais atual de músicas como Página de amigos (Rick e Alexandre) e a faixa-título Do tamanho do nosso amor (Sorocaba), em cuja letra Chitãozinho & Xororó fazem giro romântico pelo Brasil em interpretação dividida com Fernando & Sorocaba. Em repertório de tom popular, a surpresa é encontrar música inédita de Lenine com Dudu Falcão, Eu não sou nada sem você, que jamais destoa do cancioneiro habitual de Chitãozinho & Xororó, atestando a versatilidade de Lenine como compositor. Com seu canto anasalado ainda em forma, a dupla também dá vozes a tema de Djavan, Um amor puro (1999), de beleza diluída em gravação que evoca a origem rural dos irmãos paranaenses no toque do acordeom de William Santos. Com letra que também remete a esse mundo rural, Vida marvada (Gil Cardoso e Caco Moraes) é o único momento em que a tentativa de modernização da dupla soa forçada por conta da entrada em cena do rapper C4bal e do trio de música eletrônica Dexterz (de Junior Lima, Amon Lima e DJ Júlio Torres), grafado erroneamente no encarte como Dexter. Enfim, Do tamanho do nosso amor ao vivo custou a ser lançado, mas resulta interessante, com potencial comercial. De toda maneira, qualquer que sejam o tempo e som sertanejos, Chitãozinho & Xororó - outrora os meninos do Brasil caipira - não precisam provar mais nada para ninguém.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Cariocas estão aí na 10ª formação com CD jovial e fiel às tradições vocais

Resenha de CD
Título: Estamos aí
Artista: Os Cariocas
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Ao batizar o seu CD Estamos aí com o nome da composição cheia de bossa (de Maurício Einhorn, Durval Ferreira e Regina Werneck) que também deu nome a álbum lançado por Leny Andrade em 1965, Os Cariocas mandam um recado explícito ao mercado e ao seu público. Sim, o grupo vocal - cuja origem remonta aos anos 40 - ainda está aí, já na décima formação, mas sempre com o resistente Severino Filho na primeira voz. Estamos aí - o CD recém-lançado pela gravadora Biscoito Fino - é o primeiro do quarteto carioca com essa 10ª formação, completada por Fabio Luna (segunda voz), Neil Teixeira (terceira voz) e Eloi Vicente (quarta voz). Mas tem tanto frescor que um ouvinte desavisado poderia supor tratar-se do álbum de grupo vocal iniciante. Ao mesmo tempo, Estamos aí é um disco que se escora nas tradições vocais d'Os Cariocas, identificadas já na introdução de Madame quer sambar, o (razoável) inédito samba que Carlos Lyra, Roberto Menescal e Joyce Moreno fizeram - numa tripla e também inédita parceria - para solucionar a questão proposta no samba Pra que discutir com madame? (Janet de Almeida e Haroldo Barbosa, 1945). A leveza dos vocais do grupo em A felicidade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) é tamanha que a gravação soa como a pluma que o vento vai levando pelo ar na letra do poeta. Essa leveza faz com que Eu e a brisa (Johnny Alf, 1969) - canção na qual Os Cariocas recebem a adição de uma quinta voz, a de seu ex-integrante Hernane Castro - seja alvo de uma de suas melhores gravações, em sintonia com o sopro de modernidade da obra do compositor carioca Johnny Alf (1929 - 2010). Os vocais a capella do samba-canção Marina (Dorival Caymmi, 1947) reiteram o frescor d'Os Cariocas neste disco em que o único traço de cansaço aparece na voz de Chico Buarque, convidado a se juntar ao grupo em Januária, música do próprio Chico, lançada pelo compositor em 1967. A faixa é homenagem de Chico e d'Os Cariocas a Antônio José Waghabi Filho (1943 - 2012), o Magro, integrante do grupo MPB-4, falecido em agosto de 2012. Com muito mais jovialidade do que Chico, Os Cariocas harmonizam Que maravilha (1969) - a bissexta parceria de Jorge Ben Jor com Toquinho - com a devida suavidade, mas também se entendem na densidade de Vera Cruz (Milton Nascimento e Márcio Borges, 1967), faixa que ganha toque jazzy na passagem instrumental. No confronto com os clássicos regravados pelos Cariocas em Estamos aí, a inédita canção O amor em movimento - feita para o grupo pelo compositor e guitarrista mineiro Chiquito Braga com o poeta Ronaldo Bastos - soa menos sedutora em disco no qual Os Cariocas remoem os sobressaltos juvenis provocados pela moça perfilada em A noiva da cidade e ora embalados na gravação do quarteto pelo piano límpido e exato de Francis Hime, parceiro de Chico Buarque na linda canção criada por Francis nos anos 60 e letrada posteriormente por Chico para a gravação original de 1976 (A noiva da cidade foi tema do homônimo filme de 1978). No fim, Os Cariocas ainda caem no suingue com Leny Andrade - ainda hábil e veloz nos seus tradicionais scats - na música-título Estamos aí. Enfim, 65 anos após o lançamento de seu primeiro disco, um 78 rotações de 1948, Os Cariocas trocaram de integrantes - sempre com Severino Filho à frente do grupo - mas nunca perderam a identidade vocal, delineada com precisão neste jovial belo CD Estamos aí. Sim, eles estão aí com frescor.

Baby enfim vai gravar ao vivo seu show de sucessos, no Rio, em janeiro

Baby do Brasil vai, enfim, fazer a gravação ao vivo de seu aclamado show Baby sucessos, cuja estreia nacional aconteceu em 31 de outubro de 2012, no Rio de Janeiro (RJ), dentro da programação do evento Vivo open air. Como a cantora fluminense anunciou em recente entrevista dada ao programa do apresentador Jô Soares (exibida pela TV Globo neste mês de novembro de 2013), a gravação ao vivo será feita no Imperator, no Rio de Janeiro (RJ), em 31 de janeiro de 2014. Atração da estreia da turnê nacional, a participação de Caetano Veloso em Menino do Rio (1979) - a canção de Caetano que Baby cantou em disco de 1979, em registro propagado em escala nacional na abertura da novela Água viva (TV Globo, 1980), ora reprisada pelo Canal Viva - está confirmada na gravação do DVD, o primeiro da discografia da artista. A rigor, o show Baby sucessos já havia sido gravado em maio de 2013 pela MTV e exibido (parcialmente) em junho pela emissora no terceiro programa da série Estúdio MTV. Contudo, embora disponível na internet, essa gravação nunca foi comercializada. Clique aqui para ler a resenha do show em que Baby do Brasil - em foto de Rodrigo Amaral - prega paz e amor ao revisitar  sucessos como popstora. E clique aqui para saber o roteiro original do show.

Nos Arcos da Lapa, Péricles colhe diferentes frutos no quintal do samba

Nos extras do DVD Nos Arcos da Lapa, que exibe show gravado por Péricles em 26 de julho de 2013 na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro (RJ), o vocalista do extinto grupo paulista Exaltasamba recebe Arlindo Cruz, Dudu Nobre, Leandro Sapucahy e Zeca Pagodinho para um pagode. Juntos, os sambistas cantam três pot-pourris. O primeiro agrega dois irresistíveis sucessos do grande e esquecido compositor carioca Guará, Viola em bandoleira (parceria com o compositor Renato que fez sucesso na gravação original do grupo carioca Só Preto sem Preconceito) e Sorriso aberto (hit em 1988 na voz da partideira carioca Jovelina Pérola Negra). Centrado no cancioneiro de tonalidade romântica do compositor carioca Délcio Luiz, o segundo pot-pourri junta De bem com Deus (Délcio Luiz, Arlindo Cruz e Acyr Marques), Seja mais você (Acyr Marques, Délcio Luiz e Geraldão) e Volta de vez pra mim (Arlindo Cruz, Marquinho PQD e Délcio Luiz). Já o terceiro une Quem é ela (Zeca Pagodinho e Dudu Nobre), Pra São Jorge (Pece Ribeiro) e Minha fé (Murilão). Também reproduzidos no CD e no DVD na gravação ao vivo feita na Fundição, sem a presença o fantástico quarteto convidado para o pagode dos Arcos do Lapa, os três pot-pourris podem sinalizar que Péricles - bom cantor egresso de um grupo associado ao diluído pagode da década de 90 -  começa a colher os bons frutos do quintal do samba carioca. Contudo, a rigor, Péricles expõe no seu quintal frutos de diversos sabores. No show gravado ao vivo para o DVD Nos Arcos da Lapa, o anfitrião também recebe convidados como Mumuzinho - com quem canta Baratinado, parceria de Mumuzinho com Claudemir - e San, vocalista do grupo Sambô. Com San, o cantor dá voz a Segura o samba (Carica), música de gravação ao vivo que põe em primeiro plano a voz de Péricles, abafando às vezes o caloroso coro popular do público presente no show eternizado no CD (que traz 20 dos 24 números do roteiro) e DVD postos nas lojas, via Som Livre, neste mês de novembro de 2013.

Smashing transpõe egotrip de Corgan para o DVD 'Oceania live in NYC'

Oitavo álbum de estúdio do Smashing Pumpkins, Oceania (2012) foi exercício egocêntrico do cantor, compositor e guitarrista Billy Corgan, único membro remanescente da formação original do grupo norte-americano de rock alternativo. Oceania live in NYC - o DVD produzido por Barry Summers e recém-lançado no Brasil pela Universal Music - transpõe a egotrip para o formato audiovisual.  Em show captado no Barclays Center (Brooklyn, Nova York, EUA) em 10 de dezembro de 2012, sob a direção de Milton Lage, a banda toca 23 músicas da lavra de Billy Corgan e faz cover de Space oddity - canção de David Bowie, lançada pelo compositor inglês em 1969 - em roteiro que inclui as 13 músicas do CD Oceania. Existem edições de Oceania live in NYC em 3D, mas a versão editada no Brasil - no formato de DVD - é a convencional 2D.

Gisele de Santi lança seu segundo álbum, 'Vermelhos e demais matizes'

Cantora e compositora gaúcha radicada em São Paulo (SP), Gisele de Santi lança seu segundo álbum, Vermelhos e demais matizes, via Formiga Records, o mesmo selo indie pelo qual debutou no mercado fonográfico há três anos com o CD autoral Gisele de Santi (2010). Viabilizado através de financiamento coletivo, Vermelhos e demais matizes segue o trilho autoral de seu antecessor. Das 12 músicas do disco, nove - Colors colorindo, Desenho, Eita, Haver, Lamento do não, Maçã última, Mientras, Rara e Tema de novela - levam a assinatura solitária de Santi em repertório que também apresenta parceria da cantautora com Moisés Westphalen em Amor paciente. Fora do trilho autoral, Santi percorre os caminhos melódicos do Samba anônimo - pavimentado por Fabrício Gambogi, coprodutor do disco em função dividida com Gilberto Ribeiro Jr. - e dá voz a Quem é ninguém, canção feita por seu conterrâneo Vitor Ramil em parceria com Roger Scarton. Ramil canta com Santi na faixa, fiel à estética do frio.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Edição de 20 anos de 'Duets' apresenta dois registros inéditos de Sinatra

Recém-lançado nos Estados Unidos, a dupla Deluxe edition que celebra os 20 anos do lançamento de Duets (1993) - o álbum que reposicionou Frank Sinatra (1915 - 1998) em lugar de honra na parada norte-americana - vai ser editado no Brasil pela Universal Music ainda neste ano de 2013, já estando disponível no iTunes nacional. Como isca para os fãs da Voz, o CD Duets - Twentieth anniversary apresenta duas gravações inéditas do cantor entre os fonogramas dos álbuns Duets e Duets II, a sequência imediata de 1994. As novidades são o dueto com o saxofonista e maestro norte-americano Tom Scott - em One for my baby (and one more for the road) (Harold Arlen e Johnny Mercer, 1943) - e o dueto com a cantora norte-americana de country Tanya Tucker em Embraceable you (George Gershwin e Ira Gershwin, 1928). Além dos dois fonogramas inéditos, Duets - Twentieth anniversary traz também raras faixas-bônus como o dueto de Sinatra com o cantor norte-americano de country George Strait em Fly me to the moon (Bart Howard, 1954) e o encontro de Sinatra com o tenor italiano Luciano Pavarotti (1935 - 2007) em My way (Claude François e Jacques Revaux com letra em inglês de Paul Anka, 1969) - música também ouvida no disco em dueto da Voz com o cantor norte-americano de country Willie Nelson. A reedição dupla vem com libreto de 32 páginas, preenchidas com fotos raras e com texto inédito sobre os CDs - outra isca para fãs de Sinatra.

Roberto Carlos conserva tradição na embalagem e título do EP 'Remixed'

Era para ser um álbum - e com um título bastante criativo, Reimixed, que aludiria ao fato de Roberto Carlos ser o Rei para boa parte dos brasileiros. Mas o álbum acabou virando um EP de título Remixed, editado no rastro do sucesso do EP Esse cara sou eu (2012), que teria roçado os dois milhões de cópias vendidas. Nas lojas no início de dezembro de 2013, em edição que vai ser distribuída pela Sony Music, o EP Remixed enfileira versões dançantes de cinco músicas assinadas por Roberto com Erasmo Carlos. Os DJs Dexter, Erick Morillo, Felipe Venâncio, Harry Romero, Jose Nunez, MauMau e Memê jogam na pista as músicas É proibido fumar (1964), Se você pensa (1968), É preciso saber viver (1968), O portão (1974) e Fera ferida (1982). Todos os cinco remixes são inéditos em disco. Um outro remix de Se você pensa - assinado pelo DJ Memê - já tinha sido lançado em álbum editado por Roberto em 2002, mas não é o mesmo ouvido em Remixed, projeto capitaneado pelo DJ Felipe Venâncio. Além do título trivial, que descarta o trocadilho do título original, a capa azul do EP já estampa o conservadorismo do Rei.

Gerson King Combo integra gerações blacks em gravação ao vivo no Rio

Um dos pioneiros do funk / soul nacional, o cantor e compositor Gerson King Combo - nome artístico do carioca Gerson Rodrigues Cortes, nascido em 30 de novembro de 1943 - vai completar 70 anos daqui a dois dias, mas a festa já acontece na noite desta quinta-feira, 28 de novembro de 2013, com a gravação ao vivo de show realizado no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ). Viabilizada através de processo de financiamento coletivo, a gravação do show vai dar origem, em 2014, ao primeiro DVD do artista, autor de clássicos do movimento Black Rio como Mandamentos black, tema composto por Combo em parceria com Augusto César e Pedrinho. O time de convidados da gravação integra nomes de diversas gerações da Música Preta Brasileira. Artistas projetados no universo da soul music brasileira da década de 70 - como o cantor e compositor Carlos Dafé, a cantora Lady Zu (ícone da disco music nacional) e o grupo carioca de dançarinos Philadelphia - confirmaram participações em registro ao vivo que também vai ter como convidados nomes revelados mais recentemente, como o cantor Serjão Loroza e os rappers De Leve e Rabú Gonzales. Além de cantar com seus convidados, Combo também abre parcerias na gravação com nomes como Gilberto T. - com quem compôs Vem comigo a Madureira, uma das músicas inéditas do roteiro do show. A composição cita no título o bairro do subúrbio carioca no qual Combo foi o rei dos bailes da pesada nos (áureos) anos 70.

Sai no Brasil DVD em que Megadeth revisita CD 'Countdown to extinction'

Em 7 de dezembro de 2012, o Megadeth subiu ao palco do Fox Theatre em Los Angeles (EUA) e tocou na íntegra o repertório de seu álbum Countdown to extinction (1992), celebrando os 20 anos do disco, um dos mais bem-sucedidos do grupo norte-americano de heavy metal. Com imagem e áudio captados, o show deu origem ao DVD Countdown to extinction Live, lançado em setembro nos Estados Unidos e recém-editado no Brasil via Universal Music. Às onze músicas do álbum, o grupo adicionou no roteiro do show composições de outros discos como Peace sells (1986), Hangar 18 (1990), Holy wars... The punishment due (1990), Trust (1997), She-wolf (1997) e Public enemy (do recente álbum Thirteen, editado em 2011). Já nas lojas!

R. Kelly lança o seu 12º álbum de estúdio, 'Black panties', em dezembro

Precedido pela edição em julho de 2013 de seu primeiro single (My story, ao qual se seguiu um segundo single, Genius, editado em setembro), o 12º álbum de estúdio de R. Kelly, Black panties, tem lançamento agendado para 10 de dezembro de 2010 em edição da RCA Records que vai ser distribuída em escala mundial pela gravadora Sony Music. No disco, produzido pelo próprio R. Kelly, o cantor norte-americano de r & b recebe convidados como a cantora norte-americana Kelly Rowland (em All the way) e os rappers norte-americanos Future (em Tear it up, faixa exclusiva da Deluxe Edition),  Ludacris (em Legs shakin) e Young Jeezy (em Spend that), entre outros convidados. A foto acima é a capa da Deluxe Edition do CD Black panties.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Reedição traz música nunca gravada em disco pelo Velvet Underground

Segundo álbum do grupo norte-americano The Velvet Underground, que projetou John Cale e Lou Reed (1942 - 2012), White light / White heat - lançado originalmente em janeiro de 1968 - ganha reedição tripla que chega às lojas, via Universal Music, em 3 de dezembro de 2013, ainda em tempo de comemorar os 45 anos do lançamento do disco. São três CDs que totalizam 30 faixas. A grande isca para atrair consumidores para a 45th anniversary 3 CD super deluxe edition de White light / White heat figura no terceiro CD, que traz sete números de show feito pela banda em Nova York (EUA) em 30 de abril de 1967. Trata-se de I'm not a young man anymore, música de autoria de Lou Reed, tocada ao vivo uma única vez pela banda (nessa apresentação no Gymnasium de NTC), mas nunca registrada em disco pelo Velvet Underground. Os outros discos apresentam takes e versões alternativas de músicas como Here she comes now e The gift. Eis as faixas da reedição de White light / White heat:

Disco 1 (Stereo)
1. White light / White heat
2. The gift
3. Lady Godiva’s operation
4. Here she comes now
5. I heard her call my name
6. Sister Ray
7. I heard her call my name (take alternativo)
8. Guess I’m falling in love (versão instrumental) - inédita
9. Temptation inside your heart (Original mix)
10. Stephanie says (Original mix)
11. Hey Mr. Rain (Version one) - inédita
12. Hey Mr. Rain (Version two) - inédita
13. Beginning to see the light (Early version) - inédita

Disc: 2 (Mono)
1. White light / White heat
2. The gift
3. Lady Godiva’s operation
4. Here she comes now
5. Heard her call my name
6. Sister Ray
7. White light / White heat (Mono single mix)
8. Here she comes now (Mono single mix)
9. The gift (Vocal version) - inédita
10. The gift (Instrumental version) - inédita

Disc: 3 (Live at The Gymnasium, NYC, April 30, 1967)
1. Booker T.
2. I’m not a young man anymore - inédita
3. Guess I’m falling in love
4. I’m waiting for the man - inédita
5. Run run run - inédita
6. Sister Ray - inédita
7. The gift - inédita

Elba grava Luiz e afins com cordas do Encore e tom armorial do SaGrama

Elba Ramalho vai abordar a obra de Luiz Gonzaga (1912 - 1989) e de compositores influenciados pelo Rei do Baião - como Caetano Veloso, Chico Buarque e Marcelo Jeneci, entre outros - no espetáculo Cordas, Gonzaga e afins. Contemplado com patrocínio do projeto Natura Musical, o show de tom teatral vai estrear em abril de 2014, em Salvador (BA), percorrendo ao todo sete cidades brasileiras em turnê nacional que vai ser gravada ao vivo. DVD e CD ao vivo vão festejar os 35 anos de carreira fonográfica da cantora paraibana, cujo primeiro álbum foi lançado em 1979. Em Cordas, Gonzaga e afins, Elba vai cantar repertório (ainda em fase de seleção) no tom armorial do SaGrama - grupo pernambucano criado em 1995 pelo flautista e maestro Sérgio Campelo, diretor musical do espetáculo - e com a adesão das cordas do também pernambucano Quarteto Encore e da sanfona do músico Marcelo Caldi. Idealizado por Margarida Rodrigues, o espetáculo vai ter direção assinada por André Brasileiro e roteiro de tom teatral criado pelo dramaturgo pernambucano Newton Moreno, autor de peças como As centenárias e Maria do Caritó. A intenção é explorar as possibilidades musicais e dramáticas de Elba, grande intérprete que também já entrou em cena como atriz, sobretudo nos anos 70, década em que ganhou projeção no Rio de Janeiro (RJ) em espetáculos de teatro.

Índia cibernética, Rennó ritualiza repertório do CD I A R A em show teatral

Resenha de show
Título: I A R A
Artista: Iara Rennó (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Arena do Sesc Copacabana (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 26 de setembro de 2013
Cotação: * * * *

Terra de origem indígena desbravada por colonizadores a partir do século XVII, o bairro carioca de Copacabana - célebre cartão postal do Rio de Janeiro (RJ) - foi cenário na noite de ontem, 26 de novembro de 2013, da apoteose modernista de espécie (rara) de índia cibernética que habitou a pele da cantora e compositora paulista Iara Rennó na estreia do ótimo show I A R A. Na arena circular do Sesc Copacabana, Rennó ritualizou o repertório do CD I A R A - recém-lançado pela gravadora paulista Joia Moderna, do DJ Zé Pedro - e deglutiu antropofagicamente influências e referências de samba, rock e outros elementos da geleia geral tropicalista. Ao redor de Rennó, hábil no toque performático de sua guitarra, o baterista e percussionista Leo Monteiro e o tecladista Ricardo Gomes (habitualmente no baixo da Banda Cê) prepararam os climas para a ambientação musical de show indie e teatral, calcado na cena armada com impacto pela diretora Ava Rocha. A belíssima luz de Alessandro Boschini preencheu a arena com efeitos que realçaram os climas do espetáculo. A video-instalação de Cristina Amazonas completou a cena, prejudicada de início por som deficiente que abafou as interpretações de Já era (Iara Rennó, 2013) - refeita no encerramento do bis - e do transamba Seu José (Iara Rennó, Thor Madsen e Anders Hentze, 2013), cuja narrativa do voo existencial da personagem-título se fragmentou nesse início de show feito na penumbra. O show se iluminou - em todos os sentidos - a partir do terceiro número, Outros tantos (Iara Rennó, 2013), e a partir daí jamais perdeu a pegada. Sob efeito macunaímico, a cyber índia tupi preparou o samba-canção Arroz sem feijão (Iara Rennó, 2013) à moda crua do grupo alemão Kraftwerk, experimentou texturas em Amor imenso (Iara Rennó e Thalma de Freitas, 2013) e em Estribilho (Iara Rennó, 2013), misturou inglês com português em The love (Iara Rennó, Tony Gordyn e Thalma de Freitas, 2013) e abriu a roda para receber Moreno Veloso e cair no samba com o produtor de I A R A, CD arranjado por Leo Monteiro e Ricardo Dias Gomes com a própria Rennó. O samba Nenhuma (Moreno Veloso, 2000) foi o aperitivo para o momento mais saboroso do banquete macunaímico, Um passo à frente (Moreno Veloso e Quito Ribeiro, 2005), degustado pela dupla com prato, faca e uma cadência tão envolvente que o samba de roda ganhou colorido inexistente na (boa) gravação feita pela cantora baiana Gal Costa no revigorante álbum Hoje (Trama, 2005). Antes de abrir a roda para a entrada de Moreno, Rennó já havia dado provas de sua habilidade como intérprete quando, munida de dois chocalhos, deu novo sentido a Outro (Caetano Veloso, 2006), música do disco , tempero jogado no caldeirão modernista do CD I A R A. A dança ritualística de Miligramas (Iara Rennó) - música que lembra que Rennó descende da tribo do vanguardista Itamar Assumpção (1949 - 2003) - enfatizou o caráter performático do show, cuja temperatura foi elevada com a exposição de Tara (Negro Leo, 2013), tema de alto teor sexual, gozado por Rennó em pas de deux com o quente Negro Leo, que permaneceu em cena em Arte bruta (Negro Leo e Ricardo Pitta, 2012). No fim, outro transamba - Roendo as unhas (1973), criativa apropriação do tema tenso de Paulinho da Viola - se harmonizou com o ritual afro da dançante Elegbara (Iara Rennó, 2013). No bis, Macunaíma (Iara Rennó, 2008) - música da ópera tupi registrada pela artista em 2008 em um primeiro disco solo inspirado na obra modernista do escritor paulista Mário de Andrade (1893 - 1945) - mostrou que, mesmo com todas as deglutições e influências absorvidas pelo CD I A R A, a tribo de Rennó continua sendo a própria Iara Rennó, índia indie nestes tempos cibernéticos. 

Rennó põe temas de Caetano, Moreno e Romulo na roda do show I A R A

Senhora da cena na arena circular do Sesc Copacabana, palco da estreia nacional do excelente show I A R A na noite de 26 de novembro de 2013, a cantora e compositora paulista Iara Rennó pôs Moreno Veloso na roda. Produtor do homônimo disco I A R A, recém-lançado pela gravadora Joia Moderna, Moreno foi um dos convidados do show que atraiu antenada plateia do Rio de Janeiro (RJ). Com o baiano Moreno, Rennó protagonizou um dos grandes momentos do performático show dirigido por Ava Rocha. Foi quando Rennó caiu no samba de roda Um passo à frente (Moreno Veloso e Quito Ribeiro, 2005) - em abordagem que revitalizou a composição, superando o registro feito por Gal Costa no álbum Hoje (Trama, 2005) - após ter recebido Moreno para cantar o samba Nenhuma (Moreno Veloso, 2000), composição lançada pelo autor no CD Máquina de escrever música (Rock It!, 2000), assinado pelo trio Moreno + 2. Três números depois, o maranhense Negro Leo - nome artístico do cantor e compositor Leonardo Campelo Gonçalves, nome em ascensão na cena indie carioca - entrou na roda para cantar com Rennó suas músicas Tara (tema de alto teor erótico que batiza EP digital lançado por Leo em março de 2013) e Arte bruta (parceria de Leo com Ricardo Pitta lançada em 2012). Sozinha, com forte presença cênica, Rennó cantou as onze músicas do CD I A R A e investiu no repertório autoral de Caetano Veloso - dando voz e vida a Outro, música do álbum (Universal Music, 2006), munida de dois chocalhos - e na obra do grupo paulista Passo Torto, do qual abordou  com propriedade A não ser que me ame (Romulo Fróes e Rodrigo Campos), música lançada no segundo álbum do quarteto, Passo elétrico (YB Music, 2013). Eis o roteiro seguido por Iara Rennó - em foto de Rodrigo Amaral - na estreia nacional do teatral show I A R A, na arena do Sesc Copacabana - Rio de Janeiro (RJ), em 26 de novembro de 2013:

1. Já era (Iara Rennó, 2013)
2. Seu José (Iara Rennó, Thor Madsen e Anders Hentze, 2013)
3. Outros tantos (Iara Rennó, 2013)
4. Arroz sem feijão (Iara Rennó, 2013)
5. Amor imenso (Iara Rennó e Thalma de Freitas, 2013)
6. Ma voix  (Iara Rennó, 2013)
7. The love (Iara Rennó, Tony Gordyn e Thalma de Freitas, 2013)
8. Estribilho (Iara Rennó, 2013)
9. Outro (Caetano Veloso, 2006)
10. Nenhuma (Moreno Veloso, 2000) - com Moreno Veloso
11. Um passo à frente (Moreno Veloso e Quito Ribeiro, 2005) - com Moreno Veloso
12. A não ser que me ame (Romulo Fróes e Rodrigo Campos, 2013)
13. Miligramas (Iara Rennó, 2013)
14. Tara (Negro Leo, 2013) - com Negro Leo
15. Arte bruta (Negro Leo e Ricardo Pitta, 2012) - com Negro Leo
16. Roendo as unhas (Paulinho da Viola, 1973)
17. Elegbara (Iara Rennó, 2013)
Bis:
18. Macunaíma (Iara Rennó a partir da obra de Mário de Andrade, 2008)
19. Já era (Iara Rennó, 2013)

Em duo, Diogo e Hamilton preparam CD baseado no projeto 'Bossa negra'

Diogo Nogueira vai dar oportuno upgrade em seu repertório - atualmente mais voltado para o pagode romântico do que para o samba, como evidenciado no CD Mais amor (2013) - em disco a ser gravado em duo com o bandolinista Hamilton de Holanda. Trata-se de CD baseado no projeto Bossa Negra, nascido a partir de show feito no improviso, sem ensaio, pelo cantor carioca com o músico também carioca em Miami (EUA), em 2009. Por conta da química resultante no palco, Diogo e Hamilton tiveram a vontade de criar um show no qual o duo - acompanhado em cena pelo baixista André Vasconcellos e o percussionista Thiago da Serrinha - reavivam repertório centrado no bom samba. Já em fase de pré-produção, o disco vai ter repertório inspirado pelos afro-sambas compostos nos anos 60 pelo violonista fluminense Baden Powell (1937-2000) com o poeta carioca Vinicius de Moraes (1913-1980). A primeira gravação do projeto Bossa Negra - inspirada abordagem de O que é amor (Arlindo Cruz, Maurição e Fred Camacho), samba lançado em 2007 por Arlindo Cruz e Maria Rita nos respectivos álbuns Sambista perfeito e Samba meu -  já está disponível para audição no site oficial do projeto.

Nação se reúne em 2014 e grava álbum de inéditas com Berna e Kassin

Embora lacônico comunicado postado pela Nação Zumbi no facebook ("Esclarecimento: não vamos entrar em estúdio e não sabemos se voltamos em 2014") no primeiro semestre de 2013 tenha suscitado dúvidas quanto ao futuro da banda do Recife (PE), o fato é que o grupo vai se reunir em 2014 para gravar seu primeiro álbum de inéditas em sete anos. A gravação do sucessor de Fome de tudo (2007) está prevista para janeiro e fevereiro, sob a produção de Berna Ceppas, Kassin e Mario Caldato. A rigor, a banda já havia registrado inéditas em sessões de pré-produção, mas quer regravar todas as músicas. A refazenda do disco - viabilizada com patrocínio obtido no projeto Natura Musical - interrompe o recesso da Nação Zumbi, cujos integrantes andavam dispersos, envolvidos em projetos paralelos (embora tenham gravado, de forma meio burocrática, suas sete faixas do disco em que a Nação Zumbi e o Mundo Livre S/A trocam de repertório). A edição do disco de inéditas, em 2014, vai festejar os 20 anos do lançamento do primeiro álbum do grupo, Da lama ao caos (1994), o influente CD dos anos 90. 

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Clássico de Moacir Santos, 'Coisas' ganha reedição em vinil da Polysom

Um dos discos mais inovadores e influentes de toda a história fonográfica brasileira, Coisas - primeiro álbum do compositor, saxofonista, arranjador e maestro pernambucano Moacir Santos (Flores – PE, Brasil, 26 de julho de 1926 / Pasadena – CA, EUA, 6 de julho de 2006), lançado originalmente em 1965 pela extinta gravadora Forma - ganha reedição em vinil de 180 gramas fabricado pela Polysom na série Clássicos em vinil. Produzido por Roberto Quartin (1943 - 2004), Coisas é o disco em que Santos extraiu ouro negro de fontes seminais como os ritmos afro-brasileiros, o jazz, o choro e os sons do sertão nordestino, sedimentando um padrão próprio de composição, conhecido como mojo. Coisas retorna ao catálogo no formato de LP com total fidelidade à sua edição original, inteiramente instrumental. O repertório é composto por 10 músicas, todas intituladas Coisa e diferenciadas apenas pela numeração. São todas de autoria de Moacir Santos, mas seis das dez Coisas foram criadas pelo artista em parceria com Clóvis Mello (a Coisa nº 1), Mario Telles (Coisa nº 5, Coisa nº 7 e Coisa nº 10) e Regina Werneck (Coisa nº 8 e Coisa nº 9). Após o lançamento, alguns temas do disco ganharam letras, caso de Coisa nº 5, que, na versão com letra, veio a se chamar Nanã e se tornou a música mais conhecida da obra inventiva do compositor. A reedição de Coisas na série Clássicos em vinil vem com texto escrito por Mario Adnet, compositor e maestro que produziu com o saxofonista Zé Nogueira cultuado CD, Ouro negro (Biscoito Fino, 2001), em tributo a Moacir Santos, gravado com aval e adesão do artista.

Revelação de 2012, Alice Caymmi já prepara no Rio seu segundo álbum

Grata revelação musical de 2012 por conta de seu belo e promissor primeiro disco, editado pela reativada Kuarup, Alice Caymmi - vista em foto trabalhada com arte de Gabriel Martins - já grava no Rio de Janeiro (RJ) seu segundo álbum. O lançamento do CD está previsto para 2014.

Aposta de Campello, Maria Luiza canta com Flausino no primeiro álbum

Aposta do produtor Rodrigo Campello, a cantora e compositora paulistana Maria Luiza debuta no mercado fonográfico em 2014. Já com o single Doze em rotação desde 12 de novembro, o primeiro álbum da artista - intitulado Maria Luiza - tem lançamento previsto para janeiro. O repertório concilia inéditas autorais como Victimless crime - música incluída na trilha sonora do filme Confissões de adolescente, que também tem estreia programada para janeiro de 2014 - e regravações de músicas como Busy man (Sem você), parceria de Arnaldo Antunes com Carlinhos Brown, lançada por Brown no álbum Omelete man (1998). A música Pequena tem a participação de Rogério Flausino, vocalista da banda mineira Jota Quest. Maria Luiza - que tem somente 17 anos - dá voz a 12 músicas no disco, cantando em português e em inglês. O CD foi gravado com os músicos Rodrigo Campello (violão, guitarras, harpa chinesa zheng e programações), João Viana (bateria), André Rodrigues (baixo), Sacha Amback (órgão, fender Rhodes, teclados, synth e acordeon), Nicolas Krassik (violino), JR Tostoi (guitarras), Marlon Sette (trombone), Humberto Araújo (arranjos de metais, sax alto, barítono e tenor), Diogo Gomes (trompete e flugelhorn) e Reinaldo Seabra (trompa e trombone). Os vocais são de Andrea Dutra e Ana Zinger. Felipe Abreu dirigiu a voz - de timbre mezzo-soprano - da cantora.

Boca Livre se abre para o futuro em 'Amizade' sem renegar seu passado

Resenha de CD
Título: Amizade, Boca Livre
Artista: Boca Livre
Gravadora: MP,B Discos / Universal Music
Cotação: * * * * *

Dá para identificar facilmente o d.n.a. vocal do Boca Livre nos uníssonos de cada uma das oito faixas de Amizade, Boca Livre, primeiro álbum sem caráter retrospectivo do grupo - surgido em 1978 no Rio de Janeiro (RJ) - desde Americana (1995). Contudo, o CD produzido pelo próprio quarteto - ora formado por Zé Renato (1ª voz e violões), Lourenço Baeta (2ª voz, flautas e violão), David Tygel  (3ª voz e viola) e Maurício Maestro (4ª voz, baixo e violão) - aponta novos caminhos harmônicos e vocais. Em essência, o Boca Livre se abre para o futuro sem renegar seu honroso passado. A precisão da releitura do Baião do acordar (Novelli, 1974) sinaliza, já na abertura, o frescor e a grandeza de Amizade, Boca Livre, disco que se impõe instantaneamente como um dos melhores dos 35 anos de vida do quarteto e também deste multifacetado 2013. Na sequência, Tempestade - parceria do estupendo violonista e compositor paulista Chico Pinheiro com o xará paraibano Chico César, lançada por Pinheiro em disco de 2005 - evoca a ancestral negritude africana nos vocais do grupo e no toque dos tambores percutidos por Armando Marçal. Esse tom afro se harmoniza com os sopros da flauta de Danilo Caymmi e do duduk (instrumento da Europa Oriental e do Oriente Médio) de Zé Nogueira. Após Tempestade, vem a bonança de ouvir uma grande e desconhecida música de Edu Lobo, composta nos anos 90 (com letra precisa do poeta Paulo César Pinheiro) para peça infantil sobre Peter Pan encenada no Rio de Janeiro (RJ). Até então inédita em disco, Terra do Nunca é o grande achado do repertório de Amizade, Boca Livre. Com seus vocais sempre harmoniosos, o Boca Livre se embrenha em estado de graça pelas trilhas de Terra do Nunca, realçando toda a beleza sublime do tema do genial Edu Lobo. Sem perder o pique, o grupo desvenda novamente Mistério do prazer (Zé Renato, Claudio Nucci e Juca Filho, 1986) - melódica balada lançada na voz  límpida de  Zizi Possi - e se joga nos afluentes melódicos da caudalosa Rio Amazonas (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, 1991) antes de emergir com a mesma harmonia em Água clara, guarânia inédita da lavra do componente Maurício Maestro (criador dos arranjos vocais) cuja gravação irmana toques andinos (soprados pelas flautas de Lourenço Baeta) e rurais (por conta da viola de David Tygel). Entre a jobiniana Rio Amazonas (faixa cujos excepcionais vocais e arranjo evocam sons da gênese do Brasil) e Água clara, o Boca Livre reafirma sem nostalgia a crença na música das Geraes em Paixão e fé, parceria dos mineiros Tavinho Moura e Fernando Brant, lançada por Simone no álbum Face a face (1977). No fim, a música-título Amizade - parceria de Marcos Valle (que toca piano na faixa) com Maurício Maestro - prega o companheirismo com o frescor que pauta este renovador disco do Boca Livre, hábil ao reavivar tradições vocais sem repetir a mesma toada.

Ferriani se impõe no jorro vertiginosamente livre do primeiro CD autoral

Resenha de CD
Título: Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio
Artista: Verônica Ferriani
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * *
Disco disponibilizado para download gratuito e legalizado no site oficial da artista

É no tom seco de uma cantadora nordestina que Verônica Ferriani dá voz à Lábia palavra, última das onze músicas de seu surpreendente primeiro disco autoral, Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio. Somente o baixo acústico de Marcelo Cabral - produtor do álbum em função dividida com Gustavo Ruiz - acompanha a cantora (e agora compositora) paulista nesta faixa que sela a ótima impressão de CD que, enfim, impõe o nome de Ferriani na cena contemporânea brasileira. Em atividade desde 2004, a cantora debutou no mercado fonográfico nacional cinco anos depois com disco, Verônica Ferriani (independente, 2009), de repertório e interpretações irregulares produzido por BiD. Foi somente ao realçar toda a beleza e esperança contidas na melancólica Manhã de Londres (Taiguara, 1972), em gravação realizada para o tributo A voz da mulher na obra de Taiguara (Joia Moderna, 2011), que Ferriani se revelou uma cantora realmente interessante, embora sua vocação para o canto da MPB já tivesse sido sinalizada em Sobre palavras (Borandá, 2009), CD em que deu voz às parcerias de Chico Saraiva e Mauro Aguiar. Por isso mesmo, nada fazia supor que a guinada dada pela artista em Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio resultasse tão contundente e, sim, interessante. Afinal, a expectativa de um disco de Verônica Ferriani como compositora era baixa, já que em 2012 a artista havia jogado na rede uma música autoral - Tu, neguinha, parceria com a compositora paulista Giana Viscardi - que se mostrara insossa. Mas o fato é que o CD Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio reverte essa baixa expectativa. Sim, é um  disco que merece atenção. Ao assinar sozinha as onze músicas e letras do álbum, Ferriani se revela compositora original no jorro vertiginosamente livre - para aludir a verso de C'est la vie (música composta em português com vocábulos em francês) - da safra autoral de criação aparentemente intuitiva. Nesse ponto, as músicas de Ferriani lembram as de Vanessa da Mata. Embora não haja qualquer parentesco musical entre elas, ambas deixam a salutar impressão de que foram criadas livre de regras, métodos e fórmulas de composição. Parece que vieram ao mundo como um jorro espontâneo e necessário de criação - pista, aliás, dada pelo sugestivo título Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio. E talvez seja por isso que músicas como Estampa e só, Zepelins, De boca cheia, Ele não volta mais e Era preciso saber - as cinco composições alocadas na impactante sequência inicial do álbum - soem tão livres, inusitadas, valorizadas por uma pegada pop contemporânea que também não segue receitas. Uma cuíca introduz e pontua Dança a menina sem deixar a faixa cair no samba. A guitarra roqueira de Guilherme Held eletrifica Não é não sem fazer com que a música soe como um rock. Criativos, os arranjos - criação coletiva de Gustavo Ruiz, Marcelo Cabral, Guilherme Held e Sérgio Machado (arregimentado para pilotar a bateria) - contribuem para a coesão do disco, cuja modernidade já é exposta na instigante capa criada por Mariana Zanetti com base em fotos de Ana Brun. Um exemplo é o arranjo de Esvaziou. Parece que a música flutua num vácuo. Nesse jorro, a sauve balada À segunda vista soa alienígena em repertório tratado com eletricidade e certa intensidade. Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio transborda, projetando Verônica Ferriani com contundência.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Duo Vulgue Tostoi soa mais orgânico, mas ainda inquieto, no segundo álbum

Resenha de álbum
Título: Vulgue Tostoi II - Sistema delirante amplo e defasado da realidade 
Artista: Vulgue Tostoi
Gravadora: Bolacha Discos / Guri Zumbi
Cotação: * * * 

 Quando lançou há longos 12 anos o primeiro álbum, Impaciência (Net Records, 2001), o Vulgue Tostoi era um trio formado pelo guitarrista JR Tostoi com Marcello H e Victor Z. Como trio, o Vulgue Tostoi debutou no mercado fonográfico com cultuado disco de inspiração concretista, calcado em experimentações e ruídos eletrônicos. Decorridos 12 anos, o grupo carioca já está reduzido a um duo - levado adiante pelos remanescentes JR Tostoi (voz e guitarra) e Marcello H (voz, guitarra e programações) - e soa mais orgânico no segundo álbum, Vulgue Tostoi II - Sistema delirante amplo e defasado da realidade, produzido por Tostoi e lançado neste mês de novembro de 2013. Sedutor mais pelas texturas e camadas entranhadas nas 16 músicas do que pelas composições em si, o disco preserva a inquietude do Vulgue Tostoi - como sinalizam as dissonâncias da ruidosa Na Casa da Matriz (Quando ainda era na Rua da Matriz) (JR Tostoi, Marcelo H, Berg e Guila) e os ruídos da roqueira Explosão (Marcello H e JR Tostoi) - ao mesmo tempo em que aproxima o duo do formato mais pop e convencional da canção, tendência seguida por faixas como Bomber (Marcello H) e Coliseu (Marcelo H e JR Tostoi). Entre o rock Exílio (Marcello H) e o envergonhado reggae Persona (JR Tostoi e Marcelo H), o álbum Sistema delirante amplo e defasado da realidade reitera a personalidade do toque da guitarra de Tostoi - evidente em Será preciso (JR Tostoi, Marco Alexandre e Marcello H) e em outras músicas deste disco gestado ao longo dos últimos cinco anos - e abre espaço para vozes afins com a sonoridade de Tostoi, produtor com cacife elevado no mercado fonográfico carioca. Lenine entra ao fim do Samba do silêncio (JR Tostoi e Marcello H) para citar versos de Lembranças (Benil Santos e Raul Sampaio). Katia B divide Doce (Marcello H, Larissa Bracher e JR Tostoi) com o vocalista Marcello H. A presença dos violões na gênese do repertório se faz notar em Som se parte (JR Tostoi e Marcello H), canção de atmosfera power folk. Contudo, por mais que seja orgânico, Sistema delirante amplo e defasado da realidade é disco carregado de eletricidade. Uma chama perpassa a formatação das canções, plugando o duo e evitando que o Vulgue Tostoi dilua toda inquietude sob a regra do jogo pop.